Generais falam em ‘instabilidade’ e enviam ‘tremores de que poderiam desmantelar a maior democracia da AL’
Mais uma vez com foto do cemitério de Vila Formosa na home page (abaixo) e na capa de papel, o New York Times noticia que o “Brasil é abalado por conversa de ação militar para reforçar Bolsonaro”. O jornal também disparou “push” nos celulares.
Na reportagem, o título era mais direto, “Ameaças de golpe abalam Brasil conforme aumentam as mortes por vírus”, mas foi atenuado horas depois da publicação, retirando a palavra “golpe”. O segundo parágrafo se mantém:
“A crise se tornou tão intensa que algumas das figuras militares mais poderosas do Brasil lançam alertas de instabilidade —enviando tremores de que poderiam assumir e desmantelar a maior democracia da América Latina.”
Destaca dois generais, os ministros Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional, e Fernando Azevedo e Silva, da Defesa.
‘REPREENSÍVEL‘
Como contraponto, o jornal ouve apenas o ex-ministro Sérgio Moro e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. O primeiro diz que “isso está desestabilizando o país justamente durante uma pandemia” e “é repreensível, o país não precisa estar vivendo com esse tipo de ameaça”.
O segundo diz não achar que “um golpe seja iminente” e que se preocupa com a intensificação das “táticas de intimidação de Bolsonaro”, sem citar generais: “Como morrem as democracias? Você não precisa de um golpe militar. O presidente pode buscar poderes extraordinários e pode tomá-los.”
‘CRUZADA HIPÓCRITA’
Apenas em espanhol e sem chamada, o NYT posta também o artigo “A cruzada hipócrita de Sérgio Moro contra Jair Bolsonaro”, do diretor de América Latina na Sciences Po Paris, Gaspard Estrada. “Agora que saiu”, escreve o cientista político, “descobriu as bondades do Estado de Direito que ajudou a colocar sob ameaça”.Nelson de Sá
*Nelson de Sá é jornalista, cobre mídia e política na Folha desde a eleição de 1989.