Experiência de São Paulo pode reduzir confiança da população em práticas rigorosas
O prefeito Bruno Covas (PSDB) levou seis dias para reconhecer o fiasco do rodízio ampliado de veículos implantado na capital paulista na semana passada. A ideia era reduzir a circulação durante a crise do coronavírus, mas a medida não ampliou o isolamento e ainda concentrou mais passageiros em terminais de ônibus e estações de metrô.
“Não tem sentido a gente exigir esse esforço sobrenatural das pessoas se a única razão pela qual o rodízio foi feito, que é aumentar o isolamento social, não foi cumprida”, afirmou, no domingo (17).
O tucano falava como se a prefeitura não tivesse nenhuma responsabilidade pelo fracasso do plano. A medida, ao contrário, foi um exemplo de mau planejamento e falta de coordenação no momento em que São Paulo se aproxima do ponto de colapso em sua rede hospitalar.
Enquanto estados e municípios enfrentam pressões por uma reabertura desordenada do comércio, alguns governantes experimentam medidas mal elaboradas para ampliar o distanciamento. Em pouco tempo, eles descobrem que não basta uma canetada para mudar a realidade.
O feriadão surpresa articulado por Covas e pelo governador João Doria (PSDB) para os próximos dias passará por esse mesmo teste. Ao anunciar a proposta, o prefeito revelou que a capital tem um estoque limitado de caminhos a seguir: “A cidade está chegando ao seu limite de opções”.
A decisão parece ter sido um tiro no escuro. Nesta terça (19), véspera do início do megaferiado, o mercado financeiro anunciou que manteria suas atividades normais, e os prefeitos de municípios do litoral ainda discutiam maneiras de evitar que os moradores da capital lotassem suas praias nos dias de folga.
À medida que o país bate recordes de mortos e caminha para o pico da crise, a experiência paulistana pode reduzir a confiança da população em práticas mais rigorosas de isolamento. O preço cobrado pode ser especialmente alto quando a cidade for obrigada a discutir a implantação de um lockdown severo.