Mudanças na Itália pós-Mãos Limpas foram mais rápidas, mas a corrupção permaneceu, conta Gianni Barbacetto

O jornalista Gianni Barbacetto, coautor do livro Operação Mãos Limpas, abriu a terceira mesa de debates do seminário Desafios Políticos de um Mundo em Intensa Transformação, com o tema Mãos Limpas e Lava Jato, Relações de Força e Limites. Ele traçou um panorama das condições geopolíticas, econômicas, judiciais e culturais que favoreceram a operação de combate à corrupção na Itália e também apontou diferenças e semelhanças com a Lava Jato.
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O jornalista Gianni Barbacetto, coautor do livro Operação Mãos Limpas, abriu a terceira mesa de debates do seminário Desafios Políticos de um Mundo em Intensa Transformação, com o tema Mãos Limpas e Lava Jato, Relações de Força e Limites. Ele traçou um panorama das condições geopolíticas, econômicas, judiciais e culturais que favoreceram a operação de combate à corrupção na Itália e também apontou diferenças e semelhanças com a Lava Jato.

No período pós-guerra, cinco partidos – Democracia Cristã, Socialistas, Republicanos, Liberal e Social-Democrata – se revezavam no poder na Itália, atuando em bloco. O sistema de propinas, segundo Barbacetto, era “científico”, já calculado automaticamente em qualquer licitação e distribuído proporcionalmente entre esses cinco partidos, dispensando negociações a cada processo licitatório. “Mas num arco de poucos meses, foi descoberto pela magistratura esse esquema de corrupção chamado de propinópolis. E em dois anos, todo esse sistema de partidos ruiu. Caiu que o chamávamos de Primeira República, nasceu a Segunda República italiana”, explicou.

A alternativa aos cinco partidos majoritários era o partido comunista que, no entanto, não seria tolerado internacionalmente. “Investigações das décadas de 70 e 80 já davam a entender o alto grau de corrupção dentro desses partidos, mas elas foram paradas, pois o sistema político italiano, num mundo dividido em dois blocos, era improcessável”, disse. Com a queda do Muro de Berlim, o fim dos blocos e as mudanças no desenho geopolítico do mundo, os cinco partidos perderam força e as investigações passaram a ir até o fim.

Os cinco partidos, explicou Barbacetto, também tinham um grande poder sobre a economia italiana, pois controlavam grandes indústrias de Estado, petrolíferas, siderúrgicas. Além disso, havia disponibilidade financeira, com independência monetária, já que não havia ainda a unidade europeia nem o euro. Com a abertura pós-Guerra Fria, as estatais começaram a concorrer com empresas vindas de fora, que não participavam do esquema de propinas “Não havia mais margem para um sistema que era caro demais. O dinheiro acabou”, completou.

Também entrou em vigor na Itália, no final dos anos 80, a lei que deu aos Ministério Público a coordenação da Polícia Judicial que, até então, dependia da política dos ministérios. “Ligada um órgão autônomo, a Polícia Judicial ganhou liberdade para investigar os crimes políticos”, disse o jornalista.

“Tínhamos ainda uma nova sensibilidade social, em que os cidadãos passaram a criticar os superpoderes dos partidos”, completou. “E esse desejo de renovação também existe aqui no Brasil”, afirmou Barbacetto.

As diferenças com a Lava Jato, segundo ele, estão no fato de que a mudança na Itália foi rápida, enquanto no Brasil é mais longa e trabalhosa. Além disso, os velhos partidos italianos desapareceram, mas a corrupção, embora não seja mais “científica”, ainda existe. “Mas creio que os brasileiros, que conhecem o exemplo italiano e têm seu próprio exemplo, poderão fazer melhor.”

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