Chinês Xin Jing Bao vê governo dividido e avalia que ‘perspectivas do Brasil na pandemia não são otimistas’
Sem chamada em home page, New York Times, o alemão Süddeutsche Zeitung e o italiano La Stampa (reproduzidos abaixo), entre vários outros, trazem enunciados e fotos sublinhando o apelo às Forças Armadas na manifestação de domingo. Pela ordem:
“Presidente do Brasil dá vivas a protesto que pedia governo militar.”
“Apoiadores do governo no Brasil conclamam intervenção militar.”
“No Brasil, Bolsonaro discursa a militares que louvam golpe militar.”
Em Pequim, o Xin Jing Bao já traz extensa análise de Yanran Xu, professora de relações internacionais da Universidade Renmin da China. Ela escreve que, “antes de mais nada, a atitude de Bolsonaro contra o isolamento tem motivação ideológica: quer estar perto dos EUA, pode-se dizer que ‘veste as calças de Trump'”.
No trecho mais significativo:
“A matriz de poder do governo Bolsonaro é composta de cinco forças, os militares, ruralistas, economistas liberais, evangélicos e participantes da ‘Lava Jato’. As cinco têm opiniões diferentes em questões específicas. A maior contradição agora vem dos militares e dos evangélicos. No ato, Bolsonaro gritou slogans, se opõs às medidas de isolamento sustentadas pelo Supremo e por membros do Congresso —e também apoiou intervenção militar. Isso causou forte preocupação. Há também a opinião de que suas declarações inflamatórias, feitas do lado de fora do quartel-general do Exército, não queriam instigar golpe, mas mais manter a ‘positividade’ de seus seguidores.”
Ela conclui dizendo, quanto ao isolamento, que “a maioria não concorda com Bolsonaro, cuja taxa de apoio continua caindo”. Que “o governo está seriamente dividido e as perspectivas do Brasil no combate à pandemia não são otimistas”.
*Nelson de Sá é jornalista, cobre mídia e política na Folha desde a eleição de 1989.