Presidente busca satisfação pessoal ao desafiar medidas de distanciamento
Quando o país registrou a primeira morte provocada pelo coronavírus, há quase um mês, Jair Bolsonaro ameaçou dar um passeio no metrô de São Paulo. “É uma demonstração de que estou com o povo. É um risco que um chefe de Estado deve correr”, declarou.
O presidente queria exibir grandeza, mas a maluquice cogitada ali não tinha nada a ver com o papel de um líder. Com o poder limitado, ele decidiu buscar satisfação pessoal numa série de desafios infantis às medidas de isolamento e orientações das autoridades de saúde.
Bolsonaro não realizou o plano de entrar num vagão lotado, mas gastou parte dos últimos dias em campanha para encorajar os brasileiros a ignorarem o distanciamento social.
Na quinta (9), posou para fotos e incentivou uma aglomeração durante uma ida a uma padaria, devidamente gravada para as redes sociais. No dia seguinte, foi a uma drogaria e cumprimentou apoiadores depois de ter coçado o nariz com a mão.
Mesmo com as restrições ao comércio, Bolsonaro é livre para sair do palácio e comprar pão doce, procurar cloroquina na farmácia ou fazer exercícios. O presidente, porém, soma essas atividades a um discurso que incentiva milhões de brasileiros a ignorarem os alertas sobre o vírus.
A provocação imatura reflete o fiapo de autoridade que resta a Bolsonaro na crise do coronavírus. Governadores resolveram ignorar sua pressão para suspender medidas de isolamento, e o Supremo decidiu que o Planalto não tem poder para derrubá-las numa canetada.
O presidente emitiu um recibo do próprio esvaziamento. Ao deixar um hospital, ele se recusou a dizer o motivo da visita e se protegeu atrás de um direito que vale para qualquer indivíduo: “Ninguém vai tolher minha liberdade de ir e vir”.
Depois de ser desautorizado pelos pelos próprios ministros, sobrou a Bolsonaro apenas a propaganda. O cidadão Jair pode aproveitar os próximos dias para ir ao mercado ou passear de moto —mas ainda precisa evitar contatos e aglomerações.