Bolsonaro teme crise na economia e nas ruas, com derrota em 2022. E busca culpados
Uma pergunta sobrevoa os ares de Brasília nesses tempos de coronavírus: por que, com toda a tragédia e péssimas previsões para a economia, o presidente Jair Bolsonaro não dá um tempo nas suas guerras pessoais e assume mínima postura de estadista? A resposta inevitável é o temperamento incontrolável do presidente, mas isso é só uma parte da explicação.
Além da incapacidade de ouvir a própria assessoria, da mania de perseguição e da inveja de quem brilhe mais do que ele, o presidente tem motivações políticas e econômicas para a radicalização e o confronto, como no fatídico pronunciamento em que mandou às favas o isolamento social para se concentrar na economia. Os dois não são excludentes, mas isso é outra história.
Bolsonaro quer jogar a culpa da crise na mídia, governadores, prefeitos, Congresso, STF e até na China, porque teme perder apoio da base (aliás, do topo) bolsonarista – grande capital, empresariado e a tropa da internet. Logo, começou a bater o pânico de não ter gás para 2022. Com a economia derretendo, ou derretida, fica tudo mais difícil.
Há, também, outros fatores nas manifestações erráticas de Bolsonaro. Além de seu “passado de atleta”, de ter sobrevivido a uma facada e não temer “gripezinhas” e “resfriadinhos”, como esse tal de coronavírus, ele não é homem de esperar calado os ataques que imagina vindo de toda a parte. Sobretudo da esquerda, pretexto para tudo.
Antes mesmo da chegada do coronavírus ao Brasil, Bolsonaro já temia manifestações de rua, a exemplo do Chile. A esquerda, tão recolhida e tão morna desde a posse do novo governo, no ano passado, estaria se articulando para “dar o bote” no melhor momento – que corresponderia ao pior momento do presidente.
Forças Armadas, Ministério da Justiça e Segurança Pública e Agência Brasileira de Inteligência (Abin) monitoram e acompanham riscos de eventuais distúrbios. Em avaliações internas, esses riscos já existiam e podem ser potencializados pela pandemia, quebradeira de empresas e o horizonte de milhões a mais de desempregados.
Assim, o Ministério da Defesa montou dez comandos de emergência, oficialmente para a necessidade de Exército, Marinha e Aeronáutica virem a entrar no combate à doença, mas também como prevenção para o caso de convulsão social provocada pela realidade e instrumentalizada pela esquerda, com manifestações, saques e tumultos.
Bolsonaro teria uma certa obsessão com isso, achando que, mais cedo ou mais tarde, algo assim possa ocorrer e enfraquecer sua autoridade e sua posição de presidente. O que não percebe é que o ex-presidente Lula, o PT e seus satélites não estão com essa bola toda e ações radicais seriam rechaçadas maciçamente pela sociedade. Assim, quem tem trabalhado incansavelmente para enfraquecer sua autoridade e sua posição é o próprio Bolsonaro.
Após ambientalistas, estatísticos, jornalistas, professores, governadores, presidentes de outros países Congresso, STF e as áreas de Direitos Humanos, pesquisa e Cultura, ele bate de frente de novo com a ciência e inclui a área de saúde, ao minimizar o coronavírus, apesar de todas as evidências, e defender a troca do isolamento social por um “isolamento vertical”, apesar de todos os protocolos da OMS que o Ministério da Saúde e os Estados seguem.
Bolsonaro teria se saído muito melhor se ouvisse mais seus generais e assessores, menos Carlos Bolsonaro e o “gabinete do ódio”, e tivesse feito o discurso da prioridade zero, um, dois e três para o combate ao coronavírus e para salvar vidas, mas sem perder a perspectiva de preservar o possível da economia, das empresas e do emprego. O velho e bom equilíbrio. O capitão, porém, prefere sair atirando. Inclusive no próprio pé.