Acima da política, União e SP fazem tudo contra o coronavírus, mas tudo é pouco
Tudo o que pode ser feito para enfrentar a chegada do tsunami coronavírus está sendo feito pelo governo federal, pelo governo de São Paulo e pelos setores públicos e privados, acima das questões políticas. O grande problema é que esse “tudo” é muito pouco. Como também ao redor do mundo, nos quase 50 países que já convivem com o vírus circulando.
Sem vacina para prevenir, sem antivirais comprovados para remediar, só é possível fazer o óbvio, como admite o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, um personagem que emerge bem nessa crise. A primeira coisa é tentar detectar os casos suspeitos, não mais só em portos e aeroportos, mas também em solo nacional. Com a confirmação do primeiro caso, de um homem de 61 anos em São Paulo, o vírus está no ar.
A segunda medida é distinguir os sintomas leves, como no caso desse passageiro, daqueles em estado grave. Os casos leves podem ser tratados em casa, para reduzir o risco de contágio e não sobrecarregar o sistema público de saúde e mesmo os leitos privados. Só os que comprometam a capacidade respiratória devem merecer internação.
É muito mais fácil monitorar pessoas em ambiente restrito do que ameaçar alastrar a doença em locais congestionados e por onde circulam pessoas que já estão com a imunidade baixa e suscetíveis, como hospitais.
A terceira medida, de imensa importância, é evitar a qualquer custo que se alastre o pânico, a corrida a hospitais, um corre-corre inútil e perigoso que, como efeito colateral, pode despertar a cobiça de aproveitadores.
Para que correr às farmácias para comprar máscaras? Há inúmeros artigos e entrevistas por toda parte alertando que máscaras não evitam o contágio e – pior – podem favorecê-lo. A máscara é insuficiente para isolar o vírus, mas faz com que as pessoas fiquem toda hora tentando ajustá-la, ou seja, levando as mãos ao rosto. É péssimo.
O importante é fazer o básico: lavar as mãos, lavar as mãos, lavar as mãos, ou com a boa e velha fórmula da água e sabão ou usando o álcool gel. E, claro, evitar corrimão, superfícies muito tocadas, multidões, contatos com estranhos e… mãos no rosto. É simples, simplório, mas é o que temos por ora.
Dez entre dez especialistas sabiam e advertiam que a chegada do coronavírus ao Brasil não era questão de “se”, mas de “quando”. Inevitável. Só não se sabia, como não se sabe, dimensionar nem o tamanho do impacto na população nem na já tão frágil economia.
Há uma torcida, quase uma reza coletiva, inclusive de Mandetta, para que o grande inimigo do vírus no Brasil seja o clima úmido e quente de verão. Mas só saberemos disso na prática e nunca se pode esquecer que a Região Sul não é tão quente assim. A preocupação aumenta quanto mais se olha na direção ao Rio Grande do Sul.
Ao mesmo tempo, há doídas, sofridas interrogações sobre o quanto e por quanto tempo a economia global e a economia nacional serão impactadas. A China, segunda maior economia do mundo e nosso parceiro comercial número um, é o epicentro da doença, que se alastra e pegou a Europa em cheio, principalmente a Itália, que nos exportou o vírus.
Pobre Brasil. Depois dos dois anos da recessão gerada por Dilma Rousseff, vieram Rodrigo Janot, primeiro, e greve de caminhoneiros, depois, para interromper a retomada do crescimento no governo Temer. Agora, quando a aprovação da reforma da Previdência jogou toneladas de otimismo, vem uma pandemia (ainda não confirmada como tal pela OMS) atrapalhar.
Quanto às investidas do presidente Jair Bolsonaro contra tudo e todos, que só atrapalham, nem é bom falar. É hora de união, paz e segurança. O coronavírus é demoníaco. E se lixa para partido e ideologia.