Nesta terça-feira, presidente insultou jornalista da Folha com insinuação sexual
SÃO PAULO – Entidades de jornalismo repudiaram e classificam como um ataque aos jornalistas e à democracia o insulto do presidente Jair Bolsonaro, com insinuação sexual, à repórter Patrícia Campos Mello, da Folha.
Para a ANJ (Associação Nacional de Jornais), a Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), e o Observatório da Liberdade de Imprensa da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), a fala de Bolsonaro desrespeita a imprensa e o seu trabalho essencial na democracia.
A ABI (Associação Brasileira de Imprensa) chamou a agressão de “covarde” e pediu à PGR (Procuradoria-Geral da República) que denuncie a quebra de decoro de Bolsonaro.
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais de São Paulo afirma que a fala do presidente pode ser classificada como injúria e é passível de responsabilização criminal. A Fenaj (Federação Nacional dos Jornalista), em nota assinada pela Comissão Nacional de Mulheres, diz que o episódio foi de “machismo, sexismo e misoginia”.
“As insinuações do presidente buscam desqualificar o livre e exercício do jornalismo e confundir a opinião pública. Como infelizmente tem acontecido reiteradas vezes, o presidente se aproveita da presença de uma claque para atacar jornalistas, cujo trabalho é essencial para a sociedade e a preservação da democracia”, afirma a ANJ.
“O desrespeito pela imprensa se revela no ataque a jornalistas no exercício de sua profissão. […] Com sua mais recente declaração, Bolsonaro repete as alegações que a Folha já demonstrou serem falsas. Na mesma entrevista, Bolsonaro chegou a dizer aos repórteres que deveriam aprender a interpretar textos, assim ofendendo todos os profissionais brasileiros, não apenas a repórter da Folha”, afirmam Abraji e OAB.
“Os ataques aos jornalistas empreendidos pelo presidente são incompatíveis com os princípios da democracia, cuja saúde depende da livre circulação de informações e da fiscalização das autoridades pelos cidadãos. As agressões cotidianas aos repórteres que buscam esclarecer os fatos em nome da sociedade são incompatíveis com o equilíbrio esperado de um presidente”, conclui o texto.
O presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, avalia que o insulto de Bolsonaro à repórter da Folha configura uma “clara tentativa de intimidação” e demonstração de “mau-caratismo institucional”.
“O presidente incentiva os fanáticos e robôs que lhe servem de base radicalizada nas redes sociais contra uma jornalista séria. É a busca da opressão pela força do ódio público. Uma clara tentativa de intimidação que demonstra um mau-caratismo institucional inédito em nossa história republicana. Há mais um sério limite sendo flagrantemente ultrapassado”, disse.
Santa Cruz ainda cobra dos Poderes resposta à declaração de Bolsonaro para não se omitirem “diante do autoritarismo”.
“É obrigação dos democratas uma reação forte. Concordar ou se omitir é garantir ao nosso país a paz dos cemitérios, da abdicação e da rendição. Nosso dever é o confronto com os que ameaçam a cidadela das liberdades, da legalidade e da democracia que juramos sempre defender, a qualquer preço”, afirmou .
“Se a timidez e a prudência do medo estiverem em toda parte, a coragem não estará em lugar algum. Estamos com a liberdade de imprensa e em especial com a profissional, mulher, mãe vilmente atacada de forma injusta e desproporcional por quem deveria guardar o decoro do cargo que ocupa”, continua.
Santa Cruz terá encontro com o procurador-geral da República, Augusto Aras, nesta terça, e cobrará punição ao procurador Alexandre Schneider, que também insultou Patrícia Campos Mello nas redes sociais.
“Cuidado para você que quer ser jornalista: não confunda dar furo de reportagem com dar o furo pela reportagem”, escreveu o procurador lotado Rio Grande do Sul.