Bruno Boghossian: Lula e oposição ainda vacilam no embate cotidiano com Bolsonaro

Adversários hesitam até na hora de tirar uma casquinha da balbúrdia do governo.
Foto: CUT Paraná
Foto: CUT Paraná

Adversários hesitam até na hora de tirar uma casquinha da balbúrdia do governo

Lula parece ter dado uma folga a Jair Bolsonaro. Nos principais trechos de sua entrevista ao UOL na última semana, o ex-presidente citou o nome do rival apenas seis vezes. Nenhuma continha uma crítica incisiva. O petista chegou a concordar com os ataques do atual governante à imprensa e só recomendou que ele parasse de “falar bobagem”.

Trata-se do mesmo Lula que, há pouco mais de dois meses, saiu da prisão chamando Bolsonaro de miliciano e insinuando que o aumento patrimonial do adversário era fruto de atividades ilegais. “O PT tem que polarizar mesmo”, declarou.

Seja uma pausa estratégica ou uma tática duradoura, o tom do discurso do ex-presidente se soma a um comportamento relativamente tímido da oposição ao governo Bolsonaro. É verdade que o presidente e seus aliados criaram por si mesmos a balbúrdia desses primeiros 13 meses de mandato, mas seus adversários foram hesitantes até na hora de tirar uma casquinha do caos.

Parte dos opositores vacila por acreditar que qualquer exploração política da bagunça produzida pelo governo ajuda Bolsonaro. Basta uma provocação para que o presidente levante hipóteses fantasiosas de sabotagem ou lance alertas exaltados para o risco de volta da esquerda ao poder. É exagero, mas ele consegue mobilizar suas bases assim.

A cautela não disfarça o fato de que a oposição tem provocado pouco barulho até aqui. No ano passado, a esquerda ainda conseguiu surfar nas manifestações de professores e estudantes contra o bloqueio de gastos na educação, mas passou em branco na sucessão de micos do Enem.

Boa parcela desse grupo, como sempre, fica imóvel à espera de sinais de Lula. O ex-presidente, por sua vez, se mostra mais interessado em defender seu legado e reconstruir a imagem do PT em médio prazo do que em traçar estratégias para o embate cotidiano com o governo.

No mais, o petista passou a guardar a acidez de seus ataques para o ex-juiz Sergio Moro. Nesse ponto, ele e Bolsonaro têm algo em comum.

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