Presidente reage sob pressão; caso contrário, barco segue, como nos casos do Turismo e da Secom
As redes sociais amanheceram em chamas na sexta (17) com o nefasto vídeo de Roberto Alvim, então secretário de Cultura do governo, copiando discurso nazista.
Autoridades do Legislativo e do Judiciário repudiaram logo cedo. O mundo político, de esquerda e de direita, se manifestou imediatamente.
Por volta das 10h, a assessoria da Presidência informou por escrito que não comentaria. Somente minutos depois das 13h, Jair Bolsonaro anunciou a demissão de Alvim.
Ele titubeou em mandar embora quem, um dia antes, chamara de “secretário de verdade”. A demissão ocorreu mais em razão da cobrança de outros Poderes do que pela convicção do presidente de que não havia outro caminho a tomar. Bolsonaro só reage sob pressão política. Se demora a chegar, o barco segue.
Alvim, por exemplo, era subordinado ao ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, indiciado pela PF e denunciado à Justiça pelo envolvimento no esquema de laranjas do PSL, uma falcatrua com verba eleitoral. Por ora, para Bolsonaro, é como se nada tivesse acontecido.
Ele diz que pretende manter no posto o chefe da Secom, Fabio Wajngarten, flagrado pela Folha em um conflito de interesse explícito: gerencia as verbas destinadas a emissoras e agências que possuem contrato com uma empresa dele, a FW.
Não importa se Wajngarten se afastou da gestão da FW, tampouco se foram ou não ampliados os contratos de sua firma desde que assumiu o cargo de confiança em abril de 2019.
Fato é que o chefe da Secom tem negócios em andamento com empresas que dependem de sua caneta para receber milhões de dinheiro público. Aliás, antes de assumir a secretaria, ele informou o Planalto dessa relação comercial?
Foram 67 encontros do assessor de Bolsonaro com seus clientes em pleno exercício de um dos cargos mais estratégicos do governo federal. Assim como no caso do titular do Turismo, o presidente ignora dados concretos e prefere culpar a imprensa pelos malfeitos de sua equipe.