Investigação pode revelar essência política e relações da família no topo do poder
Poucos conhecem a essência do clã Bolsonaro como Fabrício Queiroz. Amigo do presidente há 35 anos, o ex-policial desabafou quando viu que as investigações sobre os gabinetes da família avançavam. Em julho, numa gravação, ele dizia que o Ministério Público tinha “uma pica do tamanho de um cometa” contra o grupo. Pois o cometa chegou.
A operação desta quarta (18) contra alvos ligados a Flávio Bolsonaro mostra o tamanho do estrago que o caso ainda pode provocar. Promotores já encontraram indícios de desvio de salários de assessores e conexões do clã com parentes de milicianos.
Suspeito de executar a “rachadinha”, o famoso Queiroz recebeu R$ 2 milhões de 13 assessores lotados no gabinete do filho do presidente na Assembleia do Rio, segundo a revista Crusoé. O Ministério Público identificou 483 depósitos desses funcionários na conta do ex-policial.
Parte do dinheiro foi enviada pela mulher e pela filha de Adriano da Nóbrega, acusado de chefiar uma das maiores milícias do estado. Quando trabalhavam para Flávio, as duas repassaram R$ 203 mil para Queiroz e sacaram mais R$ 202 mil em espécie.
Transferências fracionadas e pagamentos em dinheiro vivo são típicos do esquema em que servidores são obrigados a devolver parte dos salários para políticos ou operadores.
Flávio disse várias vezes que não participava de atividades suspeitas, mas os promotores estão decididos a ir mais fundo. Eles acham que o filho do presidente pode ter usado transações de imóveis e uma loja de chocolates para lavar dinheiro.
A família acreditava que as investigações perderiam força com o sumiço de Queiroz e pensavam que o STF mataria o caso no peito, mas as apurações ainda devem ganhar força. Além da quebra de sigilos bancários, foram apreendidos celulares de dezenas de pessoas ligadas ao clã.
A investigação já mostrou que o gabinete de Flávio funcionava como um caixa eletrônico. Agora, ainda pode revelar as engrenagens políticas e as relações nada inofensivas do grupo que chegou ao topo do poder.