Governo queima parte do crédito e passa a depender de efeito da recuperação econômica
Logo antes da posse, 65% dos brasileiros diziam que a gestão de Jair Bolsonaro seria ótima ou boa. O índice era o menor entre todos os presidentes desde a redemocratização, mas dava algum fôlego para o recém-eleito. Em pouco mais de 11 meses de mandato, o novo governo queimou parte desse crédito.
A última pesquisa Datafolha mostra que o índice de expectativas positivas em relação a Bolsonaro caiu para 43%. Isso significa que, de cada três eleitores que acreditavam que ele faria um governo ótimo ou bom, um mudou de ideia.
A população não tem bola de cristal, mas a deterioração indica que o presidente deve enfrentar um país mais inquieto nos próximos anos. Sua conduta irresponsável pode ter ajudado a consolidar uma base fiel e segurar um índice de aprovação de 30%, mas também contribuiu para a erodir a confiança em seu trabalho.
Dos entrevistados neste levantamento, 43% disseram que não creem nas declarações de Bolsonaro. Além disso, metade das pessoas ouvidas respondeu que ele não se comporta como um presidente deveria se comportar —na maioria das vezes ou em nenhuma situação.
O estilo presidencial atrapalha, mas é o menor dos problemas. A conversão das expectativas em aprovação ou reprovação a partir do ano que vem dependerá muito mais dos números da economia do que da quantidade de vídeos escatológicos postados nas redes sociais.
Entre as áreas de atuação do governo, o combate ao desemprego e a redução da miséria lideram a lista de avaliações negativas: 59% acham que Bolsonaro faz um trabalho ruim ou péssimo nesses setores.
A atividade econômica deve dar sinais melhores nos próximos anos, mas esse giro pode demorar a chegar ao emprego e à população mais pobre. O segmento de baixa renda, aliás, é o que mais reprova o governo.
Em 2019, Bolsonaro ainda conseguiu utilizar como desculpa a herança da gestão desastrada de Dilma Rousseff na economia. Em 2020, esse crédito pode se esgotar.