Governo não disfarça arbítrios para silenciar críticos e premiar quem é subserviente
Aconteceu na Hungria, na Turquia, na Rússia e em outros países. Aos poucos, as instituições públicas passaram a ser usadas pelos governantes para punir desafetos e atender a interesses particulares. A perseguição se tornou método, a ponto de não ser mais possível chamar essas nações de democracias.
No Brasil, o presidente se apossa do Estado de maneira cada vez mais descarada. A decisão do governo de promover um ataque direcionado à Folha, excluindo o veículo de uma licitação para assinatura de jornais, é um exemplo flagrante desse abuso de poder para fins individuais.
As críticas à imprensa sempre foram armas retóricas de Jair Bolsonaro. A medida tomada na última semana, no entanto, não representa apenas uma escalada nessa área. O governo já explora abertamente sua autoridade e o orçamento público como ferramentas para tentar intimidar e estrangular quem não estiver alinhado a suas vontades.
O presidente tratou a decisão de excluir um único veículo da licitação como mero capricho. “Eu não quero ler a Folha mais. E ponto final. E nenhum ministro meu”, disse, na sexta-feira (29), como se suas preferências pessoais servissem como balizas para o interesse público.
Bolsonaro já havia editado uma medida para suspender a publicação de balanços empresariais em mídia impressa. Citou explicitamente como alvo o jornal Valor Econômico e disse que não havia gostado de uma entrevista publicada pelo veículo.
Depois ameaçou cassar a concessão da TV Globo para se vingar do canal que divulgou o depoimento do porteiro de seu condomínio no caso Marielle. Também passou a destinar mais verba de publicidade a emissoras que têm menos audiência, mas que defendem sua agenda.
O governo nem disfarça quando recorre a atos arbitrários para tentar silenciar críticos e premiar quem é subserviente, desprezando critérios técnicos e os próprios limites do poder. Hoje a imprensa está na mira de Bolsonaro. Amanhã pode ser qualquer um que o contrariar.