Ranier Bragon: Os Escrotaços

Se a cruzada contra a democracia não encontrar reação, nenhum limite mais haverá.
Foto: Marcos Corrêa/PR
Foto: Marcos Corrêa/PR

Se a cruzada contra a democracia não encontrar reação, nenhum limite mais haverá

Quem gosta de quadrinhos conhece Os Skrotinhos, criação do magistral Angeli inspirada no antigo Os Sobrinhos do Capitão. Surge agora uma releitura involuntária e sombria. Em cena, Os Escrotaços.

O que dizer da finesse de Jair Bolsonaro ao sair neste sabadão (2) acompanhado de um bando de barrigudos para comprar uma moto nova? À pergunta da repórter da Folha Talita Fernandes sobre se voltaria para casa pilotando a coisa, lascou: “Não, comprei a moto pra andar de barco”.

Ahahahahahah, riso geral entre os sabujos, todos homens, a começar do ministro Luiz Eduardo Ramos.

Pela imbecilidade, o presidente pediu desculpas à repórter logo depois. O que não o impediu de postar o vídeo em suas redes sociais, sem as desculpas, para deleite da sua ala de apoiadores sem nenhuma noção.

Além do machismo repugnante, a reação embute a aversão ditatorial à imprensa independente e, exatamente por isso, incômoda. Bolsonaro sonha em fazer com esta Folha e com a TV Globo o que os seus ditadores do coração fizeram com o Correio da Manhã. Tenta minar fontes de recursos das empresas com ameaças a anunciantes e total desprezo pelo princípio constitucional da impessoalidade na gestão pública.

Por esses e outros veículos não lhe serem subservientes, como de forma ignominiosa outros tantos o são, macaqueia de novo Donald Trump e acusa-os, sem prova, de divulgar fake news –logo ele, um fecundo produtor de falsidades as mais sortidas.

Contra a escalada autoritária, multiplicam-se os lordes Chamberlains e Halifaxes a pregar conciliação e temperança com os que querem tudo menos conciliação e temperança. Outros manifestam repúdio, mas como diriam Roberto e Erasmo, cartas já não adiantam mais. “Leões patriotas”, ameaça de novo AI-5, se a cruzada dos Escrotaços contra a democracia não encontrar reação concreta, nenhum limite mais haverá.

Bolsonaro falou em “canalhas” e “patifes” por 17 vezes na live-pistola das Arábias. Que a história os identifique e lhes preste o devido tributo.

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