Mercado editorial brasileiro está dividido num fla-flu ideológico
Texto publicado na Ilustrada mostrou que a polarização tomou conta do mercado editorial brasileiro, que agora se divide num flá-flu ideológico em que autores de direita atacam os de esquerda, que veem manifestações de fascismo por todos os lados. Obras mais ponderadas não alcançam o mesmo sucesso de vendas.
A reportagem se baseia num estudo de Eduardo Heinen, Marcio Ribeiro e Pablo Ortellado que identificou os livros de não ficção mais vendidos na Amazon brasileira nas categorias de ciências sociais e política e analisou os títulos, encontrando o que na prática parecem ser dois mercados distintos, um de esquerda, outro de direita, cujos consumidores não se misturam. Os próprios autores se mostram mais interessados em vituperar uns contra os outros do que em encetar qualquer tipo de diálogo.
Constatar que a estridência vende não chega a ser uma surpresa, mas será que ela também é sinônimo de mais acertos? A questão é difícil até de delimitar, já que as ciências sociais, ao contrário das exatas, não comportam respostas unívocas, estando mais abertas à interpretação.
É o tipo de situação em que devemos procurar socorro em conjuntos mais robustos de dados. Foi o que fez o psicólogo Philip Tetlock. Ao longo de 20 anos, ele coletou 28 mil prognósticos feitos por 284 experts em economia e política e os comparou com os desfechos do mundo real. Na média, os cientistas se saíram um tiquinho melhor do que o acaso.
O ponto de interesse desse estudo publicado em 2005, contudo, é que nem todos os especialistas tiveram o mesmo desempenho. Os mais tonitruantes erraram mais, enquanto os mais comedidos, que em vez de certezas expressavam dúvidas e probabilidades, se saíram melhor.
Hoje, Tetlock se dedica a esmiuçar o que as pessoas que mais acertam têm em comum, não só nos métodos mas também nos hábitos e até nos traços de personalidade. A virulência nunca aparece.