Ao ofender mortos e exaltar ditaduras de outros países, Bolsonaro queima ainda mais o filme do Brasil na comunidade internacional
Jair Bolsonaro não foi o primeiro líder sul-americano a atacar Michelle Bachelet. Na semana passada, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, esbravejou contra a alta comissária da ONU para os Direitos Humanos. Ficou indignado com seu relatório sobre a repressão a opositores e a tortura contra presos políticos no país.
Em pronunciamento na TV, Maduro acusou a ex-presidente do Chile, uma socialista, de estar a serviço do imperialismo americano. “Não minta para o mundo, Michelle Bachelet. Você assinou um relatório que não leu. Um relatório escrito por especialistas ligados ao Departamento de Estado, inimigos da revolução bolivariana”.
Em seguida, o venezuelano elevou ainda mais o tom. Disse que Bachelet governou o Chile e “não foi capaz de levar saúde aos mais humildes”. “Deveria agarrar uma pedra e bater com ela nos próprios dentes”, afirmou.
A grosseria foi quase um afago diante do que fez Bolsonaro. Ontem o presidente acusou a alta comissária de defender “vagabundos” por criticar as mortes provocadas pela polícia brasileira. Depois baixou de vez o nível, atacando a memória do pai dela.
Dirigindo-se a Bachelet, ele afirmou que o Chile “só não é uma Cuba graças aos que tiveram a coragem de dar um basta à esquerda em 1973, entre esses comunistas o seu pai brigadeiro”. Alberto Bachelet era general da Força Aérea chilena e se opôs ao golpe que derrubou o presidente Salvador Allende. Foi preso, torturado e morto pelo regime comandado por Augusto Pinochet. A ex-presidente e sua mãe também foram torturadas.
Bolsonaro não se constrange em falsificar a história brasileira. Na terça-feira, ele disse que o regime militar foi “nota dez” na economia. Fingiu não se lembrar da hiperinflação e do aumento da dívida externa, que o país levaria décadas para pagar.
A declaração de ontem obrigou o presidente do Chile, Sebastián Piñera, a repreender seu aliado em Brasília. Ele é direitista convicto, mas não quer se associar a um regime que deixou milhares de mortos e desaparecidos.
Ao ofender mortos e exaltar ditaduras de outros países, o presidente queima ainda mais o filme do Brasil na comunidade internacional. Além de fazer Maduro parecer um gentleman.
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Na primeira aparição de Dilma Rousseff no Congresso após o impeachment, o cerimonial previu que ela se sentasse ao lado de Fernando Haddad. A poucos minutos do início do evento, alguém arrastou a plaquinha com o nome dele até o canto da mesa. Para alívio do ex-prefeito, que não se dá com a ex-presidente.