Datafolha indica que a escalada retórica do presidente tem afugentado boa parte dos que votaram nele
A nova pesquisa do Datafolha mostra que não tem agradado aos brasileiros a estratégia de governar de Bolsonaro ou a falta dela —se é que inexiste, como já declarou o presidente (“sou assim mesmo”).
Foram oito meses até hoje, 16% do mandato. Tempo de sobra tem Bolsonaro para reverter a opinião dos eleitores, embora não haja pista de que ele esteja preocupado com isso.
A pesquisa indica que a escalada retórica do presidente tem afugentado boa parte dos que apertaram o botão para varrer o PT em 2018.
O Nordeste deu sinal de que reprovou o episódio dos “paraíbas”, em que Bolsonaro foi flagrado em vídeo criticando governadores da região.
De acordo com a pesquisa, subiu de 41% para 52% o índice de avaliação ruim e péssima feita pelos nordestinos sobre o governo atual.
É um crescimento bem acima da margem de erro. Não há como contemporizá-lo. De nada adiantou o pano quente que o presidente tentou botar para amenizar a crise gerada. O recado foi dado pela população.
Recado também passado em relação às queimadas. O bate-boca com o francês Emmanuel Macron não trouxe ganhos a Bolsonaro. Para 51% dos entrevistados, a condução para combater o desmatamento e as queimadas é péssima ou ruim.
E 75% avaliam que é legítimo o interesse externo na Amazônia. Esse discurso de soberania, de que a Amazônia é do Brasil, não tem colado.
Outro dado sintomático: subiu de 25% para 32% o percentual dos que consideram que o presidente não tem se comportado de acordo com o cargo que ocupa desde janeiro.
De repente, Bolsonaro passou a atacar João Doria e Luciano Huck, potenciais obstáculos no eleitorado de direita a seu desejo de reeleição. Ao mesmo tempo mina os tentáculos de Sergio Moro (Justiça), sempre ventilado como presidenciável.
É difícil acreditar que os gestos contra os três não sejam calculados. A questão é simples: a pesquisa deveria servir para Bolsonaro entender que, se deseja ter chances em 2022, terá de repensar o que fez até aqui.