Por trás das questões ambientais está a guerra comercial
Uma das conclusões que se pode tirar do olhar do mundo sobre o nosso país por causa das queimadas na Amazônia é de que, nas questões ambientais, o governo de Jair Bolsonaro é despreparado e amador. Por trás das questões ligadas ao meio ambiente está, muitas vezes, muitas mesmo, a guerra comercial que hoje é o motor do mundo, que contrapõe os Estados Unidos e a China, a Coreia do Sul e o Japão, e tantas outras nações, o Brasil entre elas, e ameaça levar a economia do planeta a desembocar num crash profundo.
Será que ninguém no governo sabia disso quando Bolsonaro decidiu aproveitar uma reunião do G-20, no Japão, para, segundo o presidente brasileiro, falar umas verdades para seu colega da França, Emmanuel Macron, e a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, a respeito das questões ligadas ao meio ambiente? Ou que chamar Macron para visitar a Amazônia seria ganhá-lo para o lado brasileiro, fazendo-o esquecer o lobby do agronegócio francês contra o Brasil?
Quando Bolsonaro resolveu fazer uma desfeita para o ministro de Negócios Estrangeiros (o correspondente ao nosso ministro das Relações Exteriores) da França, Jean-Yves Le Drian, marcando uma audiência com ele, e desmarcando em seguida, para cortar o cabelo, o francês ficou surpreso. Mas não se viu, da parte dele, muitas queixas quanto ao gesto mal-educado. O episódio, no entanto, motivou comemorações. Da Irlanda. A mesma Irlanda que prega o boicote à compra de carne brasileira e tenta travar o acordo Mercosul/União Europeia.
O presidente Jair Bolsonaro passou 28 anos na Câmara. Nesse período, teve uma atuação ruidosa nos enfrentamentos ideológicos e na defesa de causas corporativas relacionadas aos militares, mas discreta nas outras questões. Nunca presidiu nenhuma comissão, não relatou projetos. Gaba-se de ser alguém que, do baixo clero, chegou à Presidência da República pelo voto popular por ter uma bandeira anti-PT, anti-Lula e contra o politicamente correto. É provável que não soubesse mesmo como é a guerra comercial em todo o mundo e como os cuidados com o meio ambiente são importantes para os negócios do País. Dado aos embates, Bolsonaro não se preparou para a chamada diplomacia ambiental.
Mas os escolhidos para comandar o Itamaraty tinham o dever de saber tudo a respeito dessas nuances. De falar a Bolsonaro que o Brasil é um gigante do agronegócio e que abrir garimpos nas reservas indígenas, ou acabar com as reservas florestais, traria problemas comerciais. Mas, não. Ficaram envolvidos em outros temas, foram tratar de buscar formas de tirar o Brasil do caminho daquilo que chamam de marxismo diplomático ou coisa que o valha. Outros gastaram seu tempo no incrível debate sobre se a Terra é redonda ou plana.
Nesse campo, quem melhor se saiu foi a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, que sabe o quanto a questão ambiental é importante para o ambiente dos negócios e das exportações brasileiras e que foi fundamental para o acordo Mercosul/União Europeia. Embora não se possa dizer que Tereza Cristina tenha acertado 100%, porque defendeu e conseguiu a liberação de agrotóxicos (ou defensivos, como ela prefere dizer), o que também é ponto negativo na guerra comercial.
Nessa guerra, declarações disparatadas, como as que têm sido ditas pelo presidente Jair Bolsonaro ou por seus ministros, só ajudam o concorrente. Bolsonaro e seu governo ainda acham que estão diante de um embate ideológico. Se prepararam para ele quando ninguém mais, com alguma relevância no mundo, dá a menor importância para o assunto. Ou alguém acha que Macron e Merkel são de esquerda? Se alguém acha, esse alguém deve achar que a Terra é quadrada.