El País: Novas mensagens vazadas levam escândalo com Moro e Lava Jato à Venezuela

Reportagem da 'Folha' e 'The Intercept Brasil' diz que ex-juiz orientou membros da força-tarefa a expor informações sigilosas sobre corrupção envolvendo a Odebrecht no país para fragilizar o Governo Maduro. 58% dos brasileiros reprovam conduta de Moro, diz Datafolha.
Foto: El País/AP
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Reportagem da ‘Folha’ e ‘The Intercept Brasil’ diz que ex-juiz orientou membros da força-tarefa a expor informações sigilosas sobre corrupção envolvendo a Odebrecht no país para fragilizar o Governo Maduro. 58% dos brasileiros reprovam conduta de Moro, diz Datafolha

Novos diálogos entre o ministro da Justiça, Sergio Moro, e integrantes da força-tarefa da Lava Jato —vazados por uma fonte anônima ao The Intercept Brasil e publicados neste domingo em parceria com o jornal Folha de S.Paulo—, mostram que o ex-juiz orientou os procuradores da operação a tornarem públicos dados sigilosos que envolviam contratos da Odebrechet na Venezuela. “Talvez seja o caso de tornar pública a delação  Odebrecht sobre propinas na Venezuela. Isso está aqui ou na PGR?”, teria afirmado Moro ao chefe da força-tarefa de Curitiba, Deltan Dallagnol, em mensagem enviada em 5 de agosto de 2017 pelo Telegram. De acordo com a reportagem, orientados pelo ex-magistrado, os procuradores em Curitiba “dedicaram meses de trabalho ao projeto e chegaram a trocar informações com procuradores venezuelanos perseguidos por [Nicolás] Maduro”, como reação ao endurecimento do regime chavista contra membros do Ministério Público venezuelano. “Haverá críticas e um preço, mas vale pagar para expor e contribuir com os venezuelanos”, teria dito o procurador.

A Odebrecht reconheceu em 2016 ter pago propina para fechar contratos com 11 países além do Brasil, entre eles a Venezuela, Entretanto, o acordo fechado pela construtora (assinado por autoridades brasileiras, norte-americanas e suíças) previa a garantia de sigilo do caso pelo STF e que as informações só poderiam ser compartilhadas com investigadores dos países se não houvesse consequências contra a empresa e seus executivos. De acordo com a reportagem, os procuradores debateram por meses a viabilidade de quebrar o sigilo do acordo e as consequências políticas da ação, tanto no Brasil quanto no país vizinho. Alguns manifestaram, inclusive, a preocupação de uma eventual quebra de sigilo provocar uma “convulsão social e mais mortes” na Venezuela (segundo teria escrito o procurador Paulo Galvão). “Imagina se ajuizamos e o maluco manda prender todos os brasieliros [sic] no territorio [sic] venezuelano”, respondera o procurador Athayde Ribeiro Costa.

Apesar de terem sido orientados por Russo (apelido dos membros da força-tarefa para Moro) a revelar o teor das delações da Odebrechet, a Lava Jato não teria encontrado interlocutores na Venezuela, após a procuradora-geral Luisa Ortega Díaz ter sido destituída por Maduro. O regime a acusara de chefiar um esquema de extorsões (o que ela nega), e ela se refugiou na Colômbia. Outra dificuldade em levar o plano adiante é que os membros da força-tarefa também não poderia contar com a ajuda de Moro, que já havia deixado o cargo para assumir um cargo no Governo Bolsonaro. Também encontraram com resistências no Supremo Tribunal Federal, diz a Folha.

Tanto Moro quanto a Lava Jato voltaram a rechaçar o teor das mensagens e questionar tanto a origem do conteúdo vazado quanto a sua autenticidade. “O Ministro da Justiça e da Segurança Pública não reconhece a autenticidade das supostas mensagens obtidas por meios criminosos e que podem ter sido adulteradas total ou parcialmente”, informou Moro, por sua assessoria. “O material apresentado pela reportagem não permite verificar o contexto e a veracidade das mensagens”, afirmou a assessoria da Lava Jato. A Folha, por sua vez, reiterou que seus repórteres não encontraram nenhum indício de que o material obtido tenha sido adulterado.

Maioria acha “inadequada” postura de Moro

Levantamento do Datafolha divulgado neste domingo mostra que 63% dos brasileiros tomou conhecimento das mensagens entre Moro e integrantes da Lava Jato vazadas há um mês. A maioria considera a conduta de Moro inadequada (58% dos 2.086 entrevistados entre os dias 4 e 5 de julho em 130 cidades), 31% aprovam a conduta e 11% não souberam opinar. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou menos.

Para 58% dos entrevistados, se comprovadas as irregularidades, eventuais decisões de Moro na Lava Jato devem ser revistas. Mesmo assim, a maioria é favorável à prisão do ex-presidente Lula (sentenciado à cadeia por Moro) e considera a pena justa (54%), enquanto 42% considera a prisão do petista injusta e 4% não souberam opinar.

A aprovação pessoal do ministro também caiu de 59% para 52%. Entretanto, 54% dos ouvidos não vê motivos para ele deixar o cargo.

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