Elio Gaspari: O Judiciário está vitimizando Lula

O bom futebol, assim como a Justiça, não precisa de gols marcados com a mão ou com a ajuda de Deus.
Foto: Ricardo Stuckert
Foto: Ricardo Stuckert

O bom futebol, assim como a Justiça, não precisa de gols marcados com a mão ou com a ajuda de Deus

Uma banda do PT acreditava que a campanha Lula Livre mobilizaria multidões. Isso não aconteceu e a libertação de “Nosso Guia” depende do Judiciário. Só os magistrados sabem como lidarão com o reconhecimento, pelo Ministério Público, de que ele tem direito ao regime semiaberto. A onipotência da toga está construindo o pedestal da vitimização do ex-presidente.

Deixando-se de lado questões como a propriedade do apartamento de Guarujá (SP) e do sítio de Atibaia (SP), a cegueira da Justiça varreu para baixo do tapete pelo menos quatro casos em que os juízes, como Maradona, recorreram à “mão de Deus” para ajeitar a bola.

O repórter Wálter Nunes revelou que em 2016 o juiz Sergio Moro mandou interceptar os telefones do escritório dos advogados de Lula e disso resultaram relatórios sobre pelo menos 14 horas de conversas.

Gravar advogados é crime. Moro justificou-se informando que não sabia que o número grampeado era dos advogados, pois supunha que fosse de uma empresa de palestras. Vá lá, mas a Polícia Federal diz que o grampo foi colocado porque suspeitava-se de um dos advogados do escritório, talvez metido com crimes. As duas versões não batem.

Um ano antes, Moro divulgou impropriamente o grampo de uma conversa de Lula com a então presidente Dilma Rousseff. Sua conduta foi condenada pelo ministro Teori Zavascki, do STF, e ele justificou-se com um pedido de “escusas”. Acrescentou que “jamais foi a intenção desse julgador (…) provocar polêmicas, conflitos ou provocar constrangimentos”. Acreditou quem quis.

No ano passado, no fragor da campanha eleitoral, Moro divulgou um anexo de conteúdo inconclusivo e jamais investigado da delação premiada do ex-ministro Antonio Palocci à Polícia Federal.

A esses momentos em que a “mão de Deus” ajudou Moro, some-se a sentença na qual a juíza Gabriela Hardt condenou Lula no caso do sítio de Atibaia copiando e colando um texto que se referia a um “apartamento”. A doutora justificou-se dizendo que a prática é comum. Pode ser, mas quem copia e cola um texto alheio fica na obrigação de lê-lo antes de assiná-lo. Isso ela não fez.

Sempre haverá quem diga que esses cacos são detalhes menos relevantes diante do tamanho do serviço que a Lava Jato prestou ao país. Afinal, minutos depois de marcar 1×0 contra a Inglaterra, Maradona fez um dos maiores gols da história do futebol, atravessando todo o campo dos ingleses. Mesmo assim, o bom futebol não precisa de gols marcados com a mão nem com a ajuda de Deus.

Raquel cacifou-se
Da condição de vetada por Bolsonaro, Raquel Dodge passou a ser a favorita na disputa pela Procuradoria-Geral da República.

O Ministério Público estilhaçou-se de tal forma que Dodge transformou-se num poderoso mínimo múltiplo comum.

Moro na fritura
O ministro Sergio Moro está na frigideira.

Entrou nela porque:

Bolsonaro acredita que ele é candidato a presidente.

O ministro acha que sua esperteza é tamanha que pode ser contra e a favor de medidas apresentadas pelo Planalto.

Aparece onde não deve (em Lisboa) e não aparece onde deve (nas bolas divididas de Brasília).

Esses motivos podem parecer insuficientes, mas uma cena demonstra que ele está fora da fotografia.

Quem se lembra do café da manhã de Bolsonaro com os presidente da Câmara, do Senado e do Supremo sabe que à mesa estavam sucos, pães e os ministros da Casa Civil, da Fazenda e da Segurança Institucional. O ministro da Justiça não estava na mesa.

Ele ficou fora de todas as conversas sobre esse pacto em torno de sabe-se lá o quê.

É provável que Moro seja mandado para o Supremo. A questão é saber se ele fica (ou aguenta ficar) no ministério até novembro do ano que vem, quando surgirá a primeira vaga.

Mistério
Os sábios dos partidos que se armam para a eleição municipal tentam responder a uma pergunta:

Depois da maré de “votos-contra” de 2018, quem vai prevalecer?

A turma do tiro “na cabecinha”, tipo Wilson Witzel (Harvard Fake ’15).

Ou a turma do governador mineiro Romeu Zema, do Partido Novo.

PT tonto
O comissariado petista está embrulhado nas disputas internas.

Só se poderá dizer que esse clima melhorou quando Fernando Haddad e Gleisi Hoffmann nadarem na mesma direção.

Coisa de rico
Não se vê coisa igual desde 2011, quando a coleção de joias da atriz Elizabeth Taylor foi a leilão. No dia 19 a casa Christie’s venderá cerca de 400 peças da nobreza indiana e de seus grandes marajás. Nesta semana a coleção poderá ser visitada em Nova York, mostrando um tempo que não volta mais.

Lá estão a esplêndida gargantilha de rubis e diamantes que o joalheiro Cartier fez em 1931 para o marajá de Patiala, um fauno que teve 350 concubinas e 20 Rolls Royces.

E também o broche de diamantes e safiras com forma de pavão que o marajá de Kapurtala deu de presente a sua mulher, uma dançarina de flamenco que conheceu em Madri. Eles se separaram quando ela namorou o enteado.

Irão ao martelo uma adaga de Shah Jahan, o imperador que construiu o Taj Mahal em memória de sua mulher, e dois magníficos diamantes, o Arcot II, que pertenceu à rainha inglesa Charlotte, e o Espelho do Paraíso.

São peças de um mundo que acabou, revivido graças à internet.

Segunda instância
A Câmara poderá votar ainda este ano a manutenção da prisão para os condenados em segunda instância.

Seriam criadas algumas válvulas. Uma delas seria a possibilidade de apreciação de recursos cautelares pelo Superior Tribunal de Justiça.

Inimigos de Neymar
Ainda não se sabe exatamente o que rolou entre Neymar e sua amiga Najila. Sabe-se, contudo, que com semelhante time de amigos o jogador arruina-se.

Seu pai resolveu arrancar a câmera das mãos do fotógrafo Ueslei Marcelino, que registrava o seu embarque, na pista do aeroporto de Brasília.

O advogado José Edgard da Cunha Bueno Filho, que inicialmente atendia Najila, deu entrevistas, desmentindo informações de sua ex-cliente. Advogado não revela essas conversas.

Evaristo de Moraes deixou um caso quando viu que seu cliente estava mentindo, mas nunca falou. Antonio Claudio Mariz de Oliveira discordou da conduta de Paulo César Farias, o PC, caixa de Fernando Collor, deixou o caso e nunca revelou o que ouviu dele.

Metendo-se em casa de marimbondo, o advogado viu-se acusado pelo pai de Neymar de montar uma conversa para pedir um “cala boca” para sua cliente. Bem feito.

Eremildo, o idiota
Eremildo é um idiota e encantou-se com o ministro Abraham Weintraub, porque ele defendeu “um ensino superior baseado fortemente na iniciativa privada e livre”.

O cretino está convencido de que ele fará isso expondo à sociedade a farra dos governos petistas e dos maganos das universidades privadas que fizeram a festa do Fies. Ela resultou num rombo de R$ 32 bilhões nas contas públicas e, nas palavras do ministro, na “tragédia” de sujar o crédito de 500 mil jovens

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