Outro vexame internacional
O ex-capitão Jair Bolsonaro transgrediu uma lei universal respeitada por todos os chefes de Estado desde tempos imemoriais: o representante de uma Nação jamais fala mal dela e do seu povo. Internamente não fala porque, uma vez eleito, é obrigado a governar para todos. Muitos menos fala no exterior para não a desmerecer, nem ao povo que o elegeu.
Em Dallas, no Texas, onde foi receber um prêmio que se recusou a ir buscar em Nova Iorque com medo de ser hostilizado, Bolsonaro criticou seus antecessores, a esquerda, a imprensa e ironizou as manifestações de rua contra o corte de dinheiro para a Educação. Despediu-se com um novo slogan: “Brasil e Estados Unidos acima de tudo, Brasil acima de todos”.
Sobre a imprensa, disse: “Até hoje sofremos com a mídia brasileira. Até venho sempre dizendo à mídia brasileira: ‘Se vocês fossem isentos, já seria um grande sinalizador de que o Brasil poderia, sim, romper obstáculos e ocupar um lugar destaque no mundo’”. Depois insultou uma repórter que lhe perguntou sobre o que ele não queria responder. Lamentou que o jornal a tivesse contratado.
Sobre as manifestações, afirmou: “Ontem, vimos algumas capitais de estado com marchas pela educação, como se ela até o final do ano passado fosse uma maravilha. Temos um potencial humano fantástico, mas a esquerda entrou, infiltrou e tomou não só a imprensa brasileira, mas também grande parte das universidades e das escolas do ensino médio e fundamental “.
Sobre seus antecessores, declarou: “No Brasil, a política até há pouco era de antagonismo a países como Estados Unidos. Os senhores eram tratados como se fossem inimigos nossos. Agora, quem até há pouco ocupava o governo, teve [no passado] suas mãos manchadas de sangue na luta armada”. Referia-se à ex-presidente Dilma Rousseff.
Dilma fez parte de uma organização de esquerda que pegou em armas para derrubar a ditadura militar de 64 que Bolsonaro tanto defende, mas ela não participou de ações armadas, nem manchou suas mãos com sangue. A contrário do que ele disse, o Brasil sempre foi aliado dos Estados Unidos. Nenhum presidente o tratou como se fosse inimigo.
Quanto às manifestações contra o corte de verba para a Educação: elas não ocorreram como ele observou “em algumas capitais”, mas em todas as capitais. E em cidades de médio e pequeno porte no total de pouco mais de 220. Bolsonaro ainda comparou o Brasil a Israel, em desfavor do Brasil naturalmente. E, diante da bandeira americana, como é costume seu, perfilou-se e bateu continência.
Entre as tantas viagens que ele já fez desde que assumiu a presidência da República em janeiro último, esta foi de longe a mais desastrosa, inócua e desnecessária. Puro desperdício de dinheiro. Foi ele que escolheu Dallas como ambiente seguro para receber o prêmio de personalidade do ano conferido pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos, uma entidade privada e de pouca relevância.
O prêmio seria dividido com o Secretário de Estado americano Mike Pompeo, que não compareceu à homenagem. Mandou um assessor representá-lo. O prefeito de Dallas arranjou uma desculpa para não pôr os pés no local da cerimônia, uma sala acanhada de um centro comercial da cidade. Para completar, o ex-presidente George Bush Jr. foi constrangido a receber Bolsonaro e a posar para fotos com ele.
Bate-boca entre o capitão e o encarcerado
Sem o PT ele nada seria
O que faltava não falta mais. No Twitter, ontem à noite, o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva bateram boca. Em questão, o corte de verbas para as universidades.
Bolsonaro foi quem provocou. Em sua página, escreveu:
“Lula explica para a esquerda como funciona e quando é preciso o contingenciamento de recursos públicos praticado por todos os governos. Agradeço a explanação.”
E em seguida postou o vídeo de junho de 2010 onde Lula responde a uma pergunta a respeito.
Aí foi a vez do ex-presidente, no perfil “Lula Oficial”, responder a provocação. E o fez com dois posts. No primeiro, escreveu:
“No fim do governo Lula o Brasil tinha 14 novas universidades. Do governo Bolsonaro vão sobrar só tweets.”
O segundo foi uma imagem.
Ao resgatar um vídeo antigo, o que Bolsonaro queria dizer era: se eu corto recursos da Educação, Lula já o fez.
Bolsonaro respira PT. Elegeu-se graças ao PT. Governa em contraponto ao PT. Defende-se invocando o PT. Sem o PT não seria ninguém.