À falta do que fazer, outra crise
A bola da vez já foi o ministro Gustavo Bebbiano, da Secretaria-Geral da presidência da República, e ele acabou demitido pelo presidente Jair Bolsonaro.
A bola seguinte da vez foi o vice-presidente Hamilton Mourão. Como ele é inadmissível e sequer pensou em renunciar ao cargo, ficou, mas aparentemente enquadrado.
Desta vez a bola atende pelo nome de Carlos Santos Cruz, general da reserva, ministro da Secretaria de Governo, à qual se subordina a Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom).
O busílis tem a ver com a Secom. Ela é responsável pela comunicação do Governo Federal, “coordenando um sistema que interliga as assessorias dos ministérios e das empresas públicas”.
Quem manda nela tem muito poder. Por ora, manda Santos Cruz. Carlos Bolsonaro, apoiado por seus irmãos e pelo autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho, quer mandar.
Eles estão perto de conseguir o que querem, com a complacência de Bolsonaro, o pai. O empresário Fábio Wajngarten, que assumiu recentemente a Secom, é amigo de Carlos e discípulo de Olavo.
Wajngarten foi o autor da portaria que informou às empresas estatais que suas campanhas de propaganda deveriam ser submetidas ao crivo da Secom antes de irem ao ar.
A portaria acabou revogada por Santos Cruz que não fora consultado a respeito. De resto, ela desrespeitava a Lei das Estatais que confere soberania às empresas. O general começa a pagar pelo que fez.
Em ação coordenada, o humorista Danilo Gentili pinçou um trecho de uma entrevista concedida por Santos Cruz há cerca de um mês e sugeriu no Twitter que ele era defensor da regulamentação da mídia.
Olavo, guru da família presidencial, dispensou os bons modos que quase nunca usa e bateu duro no general: “Controlar a internet, Santos Cruz? Controlar a sua boca, seu merda”, escreveu no Twitter.
Então os garotos foram para cima. Eduardo, sem citar o general: “Mesmo ao falar de uma fake news contra Bolsonaro sempre defendemos a não regulamentação da internet ou da imprensa”.
Carlos, sempre prolixo: “A internet ‘livre’ foi o que trouxe Bolsonaro até a Presidência e graças a ela podemos divulgar o trabalho que o governo vem fazendo! Numa democracia, respeitar as liberdades não significa ficar de quatro para a imprensa, mas sempre permitir que exista a liberdade das mídias!”.
Finalmente, o pai, psicografado por Carlos: “Em meu governo, a chama da democracia será mantida sem qualquer regulamentação da mídia, aí incluída as sociais. Quem achar o contrário recomendo um estágio na Coreia do Norte ou Cuba”.
Meteu-se na fritura do general quem menos se esperava, o ministro Sérgio Moro, da Justiça e da Segurança Pública, um adepto recente do Twitter e das demais redes sociais. Ele bajulou o presidente:
“Bom lembrar que não fosse a vitória eleitoral do PR Jair Bolsonaro, estaríamos hoje sob ‘controle social’ da mídia e do Judiciário e que estava expresso no programa da oposição ‘democrática’”.
A hashtag #ForaSantosCruz foi um dos assuntos mais comentados no Twitter. O general subiu no telhado. Dali poderá descer suavemente, mantendo o emprego. Ou despencar.
Sem visto para Nova Iorque
É no que dá meter-se onde não é chamado
Quando Olavo de Carvalho compara um general do Exército brasileiro a uma “bosta engomada” ele critica apenas o general ao qual se referiu ou o Exército como um todo?
Quando Bolsonaro prega a deposição de Nicolás Maduro e diz que generais que o cercam são narcotraficantes ele apenas critica Maduro e os generais ou a Venezuela como um todo?
O vice-presidente Hamilton Mourão disse na noite de sábado que o prefeito de Nova York, Bill de Blasio, ofendeu todo o Brasil ao criticar o presidente Jair Bolsonaro.
Um dia antes, Blasio comemorou a desistência de Bolsonaro de participar de um evento da Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos onde seria agraciado com o título de “Homem do Ano”.
Blasio escreveu no Twitter que Bolsonaro era um valentão “que não aguenta um soco” e que “fugiu”. Empenhado em voltar às boas com Bolsonaro, Mourão respondeu:
“O prefeito @BilldeBlasio surpreende quem tem Nova York como a cidade que universalmente acolhe pessoas de todas as origens, culturas, crenças e opiniões. Ufano, ataca @jairbolsonaro sem conhecê-lo e ofende todo o Brasil, que é representado, democraticamente, por seu Presidente”.
Bolsonaro apenas colhe o que plantou. Tinha nada de aproveitar seu encontro com o presidente Donald Trump em Washington para anunciar que torce por sua reeleição?
Blasio é do Partido Democrata. Foi em Nova Iorque que Trump levou sua maior surra eleitoral ao se eleger há dois anos. Um eleitorado hostil a Trump é naturalmente hostil a Bolsonaro.
Quando disse que visitaria Londres já na condição de presidente eleito, Trump foi duramente malhado pelo prefeito da cidade. Houve manifestações de rua contra ele. Mas Trump não fugiu.
Bolsonaro deveria perguntar a Mourão o que o torna bem recebido onde quer que vá, e ele, não.
O que segura Ernesto
Balança, balança, mas não cai. Por enquanto…
Depois do fracasso de mais uma tentativa de se derrubar Nicolás Maduro na Venezuela, quem segura Ernesto Araújo no comando da diplomacia brasileira é Eduardo Bolsonaro, o 03, que manda nele.
Ernesto perdeu a confiança dos ministros Augusto Heleno e Carlos Alberto Santos Cruz, que se irritaram ao ver que ele comprara a versão americana de que a queda de Maduro era iminente.
Outro motivo de desgaste de Ernesto: o Brasil está sem embaixador nos Estados Unidos. E assim ficará até junho à espera da promoção a embaixador do ministro de segunda classe Nestor Foster.
Foster é o candidato de Ernesto do posto. O clima está tão pesado para o lado de Ernesto que ele deixou de ser convocado para todas as reuniões no Palácio do Planalto que tratam de política externa.
As informações são do relatório semanal da TAG REPORT, das jornalistas Helena Chagas e Lydia Medeiros.