O líder oposicionista Juan Guaidó pode ter se precipitado ao declarar ter apoio de militares venezuelanos e convocar o povo às ruas para derrubar Maduro, afirma ao Estado Ricardo Sucre Heredia, cientista político venezuelano
Rodrigo Turrer, O Estado de S.Paulo
O líder oposicionista Juan Guaidó pode ter se precipitado ao declarar ter apoio de militares venezuelanos e convocar o povo às ruas para derrubar Maduro. Este movimento pode obrigar Guaidó e toda a oposição venezuelana a repensar sua estratégia para tirar o chavismo do poder, afirma ao Estado Ricardo Sucre Heredia, cientista político venezuelano.
Guaidó cometeu um erro?
O movimento parece ter sido uma ação para mobilizar o apoio de militares de alta patente, mas não parece ter dado certo. Resta entender se Guaidó conseguirá apoio das Forças Armadas como instituição, e não de pequenos grupos aqui e ali. Se isso não ocorrer, e até agora não ocorreu, será difícil Guaidó manter o movimento. Porque, por mais que seja popular, sem as Forças Armadas não é possível produzir resultado prático.
Ao vivo: veja a cobertura da crise na Venezuela
A estratégia foi apressada?
Em termos de apoio militar, com certeza. Não sei se Guaidó tinha a promessa de alguns setores das Forças Armadas antes do seu anúncio, e essa ala militar refugou, mas me parece que o movimento foi fracassado. É preciso que haja apoio conjunto dos militares, e eles não parecem ter se mobilizado para apoiar Guaidó.
Qual a importância de Leopoldo López no movimento?
Leopoldo López é o mentor de Guaidó e tem participação na estratégia para derrubar o chavismo. Com certeza, a aparição dele nas ruas é sinal da adesão de algum membro da cúpula do chavismo. Aparentemente, o Manuel Ricardo (diretor do serviço de inteligência) coordenou a libertação de López. Há informações de que ele foi preso, e isso é mais um sinal de enfraquecimento da estratégia.
O pedido de refúgio de López à embaixada é sinal de que a estratégia não funcionou?
Com certeza é um sinal preocupante. Não é bom para o movimento que o principal aliado de Guaidó tenha se refugiado em uma embaixada estrangeira (no fim do dia, seu partido informou que ele havia deixado o local). É sinal de que os resultados não foram os esperados. Maduro se fortaleceu um pouco, mas ele também ainda está longe de ter apoio total. A demora na resposta é um sinal claro disso.
Guaidó pode ser preso?
Em outros tempos ele já estaria preso, mas o apoio dos EUA a ele faz o chavismo pensar duas vezes antes de tomar a decisão. O chavismo não quer escancarar seu caráter ditatorial. Por mais que Maduro seja um ditador, ele pode dizer que foi eleito, respeita as instituições e tem apoio de países estrangeiros. É preciso esperar para ter mais informações, mas a estratégia de hoje vai ter um custo para Guaidó: de imagem, de liderança, de organização. Houve um erro estratégico e Guaidó perdeu um pouco de sua aura.