Espírito de corpo contra Lava Jato reforça incerteza no Congresso para Bolsonaro
Grampeado por Joesley Batista e denunciado por corrupção, Michel Temer buscou proteção entre seus pares. Símbolo da velha política no velho MDB, o então presidente se cercou de deputados e atacou o procurador-geral Rodrigo Janot. No meio do discurso, lançou o alerta aos colegas: aquele caso criava um “precedente perigosíssimo”.
Em geral, as engrenagens de Brasília parecem girar sem coordenação, de acordo com os interesses de cada grupo. A máquina, no entanto, alinha-se perfeitamente quando uma classe se sente ameaçada. Temer fez um feirão de cargos para continuar no poder, mas contou com o espírito de corpo dos parlamentares para derrubar as denúncias de Janot.
A prisão do ex-presidente deve reacender o sentimento de autopreservação entre os políticos. As tensões entre Congresso e Lava Jato estavam em fase de reacomodação depois da eleição que varreu caciques poderosos. Agora, a tropa pode voltar à formação original para se defender.
A operação desta quinta (21) foi interpretada entre dirigentes partidários como uma tentativa de demonstração de força de juízes e procuradores que se sentem cercados por decisões do STF. O instinto de sobrevivência provocará, no mínimo, um esforço comunitário de blindagem.
As investigações abertas contra Temer nos últimos anos produziram indícios vastos de um esquema de corrupção. Muitos políticos consideraram, porém, que prendê-lo antes da condenação foi um gol de mão.
O nervosismo coletivo pode dificultar a vida do governo Bolsonaro, que tem uma pauta extensa para aprovar no Congresso. O pacote anticorrupção de Sergio Moro, em especial, deve sofrer novas resistências. A reforma da Previdência também terá que lutar contra esse distúrbio.
O vice Hamilton Mourão demonstrou preocupação e disse que o caso provoca um ruído. Bolsonaro, como de hábito, foi no sentido contrário. Tentou enaltecer seu governo, tripudiou sobre a política e disse que a prisão era resultado de acordos “em nome da governabilidade”.