Ricardo Noblat: Bolsonaro e PT, tudo a ver

Em muitas coisas eles se parecem. Certamente foi por isso que tudo fizeram para se enfrentar no segundo turno da eleição presidencial do ano passado.
Foto: Alan Santos/PR
Foto: Alan Santos/PR

Cara de um, focinho do outro

Em muitas coisas eles se parecem. Certamente foi por isso que tudo fizeram para se enfrentar no segundo turno da eleição presidencial do ano passado.

Ao longo do primeiro, o PT poupou Bolsonaro de críticas. Deixou para Geraldo Alckmin (PSDB) o serviço sujo de tentar destruir a imagem dele. Não deu certo.

Bolsonaro sempre soube que o adversário ideal para derrotar seria o PT. Suas chances seriam menores se seu adversário no segundo turno fosse qualquer um dos outros.

O que Bolsonaro faz agora com a imprensa rebelde aos seus desejos é o que o PT fez com menos estridência na época em que governou. Quer emparedá-la.

Se Lula, em comícios, chegou a citar o nome de jornalistas críticos do seu e depois do governo de Dilma, Bolsonaro procede da mesma maneira, na maioria das vezes por meio das redes sociais.

São dois irresponsáveis. Não se preocupam com as eventuais e perversas consequências à segurança de profissionais que apenas cumprem o seu dever de ofício.

Mas há uma diferença entre Lula e Bolsonaro: um está preso. O outro é o presidente da República, recém-eleito, e ainda com alto índice de aprovação.

Lula já não representa perigo algum para quem discorde dele – salvo dentro do PT, naturalmente. Bolsonaro é o perigo em pessoa.

Acadêmicos do Capitão saúda o povo e pede passagem

E o desfile mal começou…
Governo é como escola de samba. Há muitas alas, cada uma se julga a mais bonita, e todas querem brilhar na Esplanada da Sapucaí.

Há unir as alas um enredo que conta uma história. E também um samba que deve ser cantado ao ritmo ditado pelo puxador.

Se o coro de vozes não levar em conta a bateria, o samba atravessa. Se faltar harmonia no desfile, abrem-se buracos e perdem-se pontos.

No momento, O Grêmio Recreativo Acadêmicos do Capitão exibe pelo menos cinco alas. A saber:

+ Família Unida Jamais Será Vencida;
+ Fardados do General Mourão;
+ Órfãos da Lava Jato;
+ Economia Acima de Tudo;
+ e Indicados do Olavo.

Montada às pressas, a escola enfrenta um grave problema desde que começou a desfilar em janeiro último: carece de uma narrativa.

Quem puxa o samba? Não se sabe. Ora, puxa o capitão, ou tenta puxar, dando ouvido aos filhos reunidos na alucinada comissão de frente.

Mas logo ele desafina e é atropelado pelo vice, empenhado em corrigir seus erros. Por sinal, a Ala dos Fardados é a mais volumosa e ainda não está completa. Procura ocupar todos os espaços.

A da Lava Jato, a mais raquítica até aqui, teve seu comandante recentemente desautorizado. Sequer um auxiliar pode escolher.

O chefão da Economia Acima de Tudo não conversa com ninguém, nem com o pessoal a quem caberá engolir sua poção milagrosa. Dizem que troca ideias com Deus, o único acima de todos.

A turma dos Indicados do Olavo é a que mais saracoteia. Para quê? Para nada. Produz espuma e barulho inútil, para irritação e desânimo geral.

Sosseguem os que a tudo assistem bestificados: a continuar assim, a escola será rebaixada. Talvez não chegue à metade da avenida.

À falta de um samba enredo e de tantas outras coisas, melhor cantar Bye, Bye, Brasil à espera do desfile da próxima agremiação.

A turma da pipoca começa a se animar

À espera de receber para dar em troca
Respira-se melhor no Congresso. Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara dos Deputados, mandou cortar a fantasia de Primeiro-Ministro do governo presidencialista de Jair Bolsonaro.

Multiplicam-se ali os indícios de que Bolsonaro está sendo normalizado pela descoberta de que não está fácil a vida de quem sonhe em aprovar a reforma da Previdência.

Por normalizar, entenda-se: render-se ao toma lá dinheiro e cargos em troca de 308 votos na Câmara e de 49 no Senado, o mínimo necessário para mudar pontos da Constituição.

Dinheiro para obras nas bases eleitorais dos parlamentares, Bolsonaro já mandou liberar sob a justificativa de que é obrigatório. De fato, é. Mas presidente só libera quando quer, e para quem quer.

Quanto a cargos… Aos políticos só interessa aqueles que rendem dinheiro. Quer dizer: cargos com orçamentos altos e poder de convencimento junto aos prestadores de serviços.

Por enquanto, Bolsonaro ainda hesita em dá-los. Teme a reação de seus devotos, todos convencidos de que a partir de agora tudo será diferente. Mas se isso for preciso e feito com discrição…

É o que se verá mais adiante.

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