De saída do Banco Central, Ilan Goldfajn elogia a reforma da Previdência e divide com a equipe de Temer os méritos pela queda da inflação
O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, define a reforma da Previdência como “abrangente” e tem ainda o mérito de “tratar as injustiças”. Segundo ele, quanto mais eficiente for a reforma, melhor para o Banco Central, porque mais fácil fica coordenar as expectativas e manter os juros baixos. Ele está encerrando o tempo de dois anos e nove meses à frente do BC, período em que a inflação e os juros caíram, apesar das dificuldades políticas e econômicas do país.
Ele me recebeu para a entrevista na sala do Copom, que tem na parede um enorme Portinari, de 1954/1955, “Independência do Brasil”. O acervo do BC é impressionante e foi formado na época em que a instituição ficava com quadros e bens de bancos que faliam. Muitos deles estão em exposição no próprio BC, mas agora está sendo feito também acordo de comodato com o Masp para que em torno de 20 a 25 dessas obras sejam expostas no museu.
Quando Ilan assumiu o BC, nem se sabia quanto ia durar o governo Temer, porque foi exatamente no período em que a ex-presidente Dilma tinha sido afastada, mas estava correndo o processo de impeachment. A inflação tinha batido em 11% e estava entre 9% e 10%. Os juros, em 14,25%, com o país no seu segundo ano de recessão severa. Ele conseguiu reduzir a inflação fortemente. Houve um tempo que estava abaixo do piso da meta. E os juros caíram para o nível mais baixo da história. Assim, foi possível passar por uma eleição extremamente polarizada, sem qualquer problema na política monetária. Ele divide os créditos da queda dos juros e da inflação com a área econômica do governo Temer.
— Acho que teve uma combinação de política econômica, enquanto se perseguia a reforma da Previdência que agora está de novo no Congresso. Foi aprovada a PEC do teto dos gastos, a reforma trabalhista, mudou-se a taxa do BNDES. No BC, foi importante não abandonar o objetivo.
Quando eu assumi, a pressão era para que a meta fosse elevada. Nós reforçamos a comunicação do que iríamos fazer, do compromisso com a meta, aumentamos a transparência, não cedemos e isso elevou a credibilidade. A queda forte da inflação ajudou num outro momento de tensão política, na eleição do ano passado, em que houve crise externa. Ilan lembrou que o Brasil não precisou subir os juros, como outros emergentes: — Quando juntou a incerteza eleitoral com a incerteza externa — houve crise na Argentina, na Turquia, nos emergentes — houve bastante pressão dos mercados para que os bancos centrais subissem os juros.
Alguns subiram 30%, como na Turquia. Mas como nós estávamos com folga na inflação e a gente tinha a credibilidade adquirida, não precisamos subir quando o consenso era que os BCs subiriam. No Brasil, a curva de juros, que é o que o mercado imagina que vai acontecer, estimava uma subida de dois pontos. E acabou não sendo feito.
Nestes dois eventos, o que se vê é a importância de um Banco Central independente. No Brasil, o BC tem tido autonomia de fato. Mas ainda falta ter na lei: — Sabe por que é importante? No meio da eleição chegavam para mim perguntas sobre o que mudaria no Banco Central. A história de independência do Fed é que o defendeu agora dos ataques do presidente Trump. Na Turquia, na crise, o presidente atacou o BC e isso gerou uma desvalorização de 15%. Na Argentina, mudou-se o presidente do BC. A independência dá tranquilidade para se fazer outras coisas. Ilan Goldfajn elogiou a reforma da Previdência:
—Os sinais são ótimos, a reforma é ampla, abrangente. E quando digo que é abrangente é porque trata as injustiças. A questão será a implementação. Para o Banco Central, quanto mais profunda for e mais economia trouxer, melhor em termos de inflação e juros. Agora tem o passo importante que é passar pelo Congresso.
Ilan diz que o Brasil tem um “desafio fiscal relevante” pela frente e esse é o maior ponto de preocupação da economia brasileira. Acha que o país tem agora que trabalhar a capacidade de crescer de forma sustentável, com medidas que aumentem a produtividade. Ele acha que o Banco Central tem trabalhado com esse olhar mais longo na Agenda BC+, que tem uma lista de medidas para aumentar a competição no sistema bancário para acelerar a queda dos juros. Quando a inflação está baixa, lembra, o país pode trabalhar pelo crescimento.