Luiz Carlos Azedo: Não precisa de oposição

“A tensão entre Bebianno e Carlos Bolsonaro vem desde a campanha eleitoral e já teve um estresse na montagem do governo, por causa da equipe de comunicação do Palácio do Planalto”.
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

“A tensão entre Bebianno e Carlos Bolsonaro vem desde a campanha eleitoral e já teve um estresse na montagem do governo, por causa da equipe de comunicação do Palácio do Planalto”

Nem bem saiu do estaleiro, o governo já enfrenta uma crise séria, que não foi criada pela oposição, mas em decorrência de eventos de campanha do PSL e do estranhamento entre integrantes do círculo de poder do presidente Jair Bolsonaro. O secretário-geral da Presidência, Gustavo Bebianno, caiu em desgraça e pode ser defenestrado do cargo, depois de ser publicamente atacado pelo caçula do clã, o vereador carioca Carlos Bolsonaro, que o chamou de mentiroso pelo Twitter e recebeu o apoio público do pai, numa entrevista de tevê, na qual disse que o ministro poderia “voltar às origens”.

Tudo começou com a notícia de que Bebianno, enquanto exercia a presidência do PSL, teria liberado R$ 400 mil a uma candidata laranja em Pernambuco, o que o secretário-geral da Presidência nega que seja sua responsabilidade. A notícia teve péssima repercussão para a legenda, cuja ruidosa bancada na Câmara passou a ser atacada pelo PT e outros adversários, elevando a tensão na cúpula do governo. Para sair da berlinda, na quarta-feira, Bebianno minimizou o episódio, comentando que havia conversado três vezes com o presidente. Pelo Twitter, Carlos Bolsonaro disse que era mentira, pois, havia 24 horas, estava em companhia do pai, no Hospital Alberto Einstein, em São Paulo, e que o presidente da República havia se recusado a falar com Bebianno por telefone.

Bolsonaro recebeu alta e desembarcou em Brasília com a cabeça de Bebianno a prêmio. O chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, tentou pôr panos quentes no assunto e saiu em defesa de Bebianno, assim como o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que considerou as acusações precipitadas e lamentou a crise às vésperas de o governo enviar a proposta de reforma da Previdência ao Congresso. Os militares que integram o governo também atuam como bombeiros. Nos bastidores do governo, criticam o envolvimento dos filhos de Bolsonaro nos assuntos palacianos, mas o fato é que todos são políticos com mandato. Por isso mesmo, não está claro se o pai passa a mão na cabeça dos filhos ou se eles recebem orientação para falar pelo presidente da República, que tem um porta-voz exatamente para evitar que isso aconteça.

A tensão entre Bebianno e Carlos Bolsonaro, o filho mais apegado ao pai, vem desde a campanha eleitoral e já teve um estresse na montagem do governo, por causa da equipe de comunicação do Palácio do Planalto, que acabou resultando na nomeação do general Rêgo Barros como porta-voz da Presidência, e do publicitário Floriano Barbosa Amorim Neto para a Secretaria Especial de Comunicação, por indicação de Carlos Bolsonaro. O filho caçula ainda conseguiu transferir o órgão da alçada da Secretaria-Geral da Presidência para a Secretaria de Governo, chefiada pelo general Santos Cruz.

Milícias
A relação entre Bebianno e Carlos Bolsonaro ficou ainda mais tensa por causa da intervenção espetacular do secretário-geral da Presidência no Hospital Federal de Bonsucesso, que denunciou ameaças contra as autoridades do governo encarregadas de investigar a corrupção na instituição. Segundo Bebianno, o esquema seria controlado por milicianos e estava sendo investigado pela Polícia Federal. A entrevista de Bebianno, no próprio hospital, coincidiu com o noticiário sobre a prisão de milicianos no Rio de Janeiro, por envolvimento em grilagem de terra, entre eles, um ex-capitão do Bope, que foi homenageado pelo senador Flávio Bolsonaro (PSC-RJ), mesmo estando preso. A mulher e a mãe do ex-militar são ex-funcionárias do gabinete do senador quando exercia o mandato de deputado na Assembleia Legislativa fluminense. O clã tem notórias ligações eleitorais com os milicianos que atuam no Rio de Janeiro.

Bebianno presidiu o PSL durante toda a campanha, no lugar do titular, deputado Luciano Bivar (PE). Nessa condição, foi responsável pela distribuição dos recursos do fundo eleitoral para os candidatos do partido. Alega que isso foi feito via diretórios estaduais e que não pode ser responsabilizado pela existência de candidatos laranjas. Como o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) determinou que 30% dos recursos do fundo partidário fossem destinados às mulheres, a Justiça Eleitoral agora investiga os casos em que há grande discrepância entre o volume de recursos recebidos pelas candidatas e a votação recebida, o que é fácil verificar. É o caso da candidata de Pernambuco, que recebeu muitos recursos e obteve votação irrisória. Até a noite de ontem, Bebianno não havia falado com Bolsonaro nem renunciado ao cargo. Entretanto, estava sendo fritado sem dó nem piedade, apesar da turma do deixa disso não ser pequena.

Nas entrelinhas: Não precisa de oposição

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