Rodrigo Maia tornou-se na sexta-feira a segunda pessoa mais importante da República, atrás apenas do presidente. Nenhum ministro, nem o vice-presidente podem rivalizar o poder que ele concentrou em suas mãos ao ser eleito para um terceiro mandato consecutivo na presidência da Câmara. No Senado, Renan perdeu para um novato que terá tantos problemas na condução dos trabalhos da casa que dificilmente conseguirá fazer política com a liberdade que terá Rodrigo Maia.
No final do ano passado, durante um debate realizado pelo GLOBO no Rio, Rodrigo disse ser a melhor opção para o presidente Jair Bolsonaro na Câmara. “Sou um liberal na economia e um conservador nos costumes”, afirmou o deputado. Bolsonaro pode entender a eleição do deputado do DEM como uma vitória, afinal Rodrigo era mesmo o melhor nome para conduzir a pauta do novo governo. Mas ainda é cedo para festejar.
Articulado, bom negociador, maduro e experiente, Rodrigo sabe o que quer, planeja bem quase todos os seus passos e mantém em sigilo a sua própria agenda. Sua eleição resultou de uma negociação impressionante, vista nesta amplitude talvez apenas uma vez antes, quando em 2001 o então deputado Aécio Neves conseguiu se eleger presidente da Câmara ao promover uma avalanche de traições partidárias, levando para o seu partido, o PSDB, diversos deputados de outras agremiações e obtendo a maioria que consolidou uma eleição improvável. Rodrigo teve votos de praticamente todos os partidos representados na Câmara, PT inclusive.
O fato de ser liberal e conservador ajuda o governo, mas não o torna um aliado incondicional. Na verdade, Rodrigo já mostrou mais de uma vez ao longo de seus dois mandatos anteriores na presidência da Câmara que tem ideias próprias e, mesmo sendo filho de um político importante, sabe caminhar sem o apoio de muletas. E, mais importante, conhece o tamanho das suas pernas quando desafiado a dar passos largos. Num momento crucial da história do Brasil, evitou ajudar a empurrar o presidente Michel Temer para o impeachment, no episódio da JBS, mesmo sendo ele o principal beneficiário do seu afastamento.
Logo depois de eleito, Rodrigo disse em entrevista para a Globo News que não tocaria a pauta econômica do governo federal pensado apenas na União. Disse que vai ouvir todos os lados, governadores e prefeitos inclusive, para tentar alcançar, segundo ele, um pacto que atenda a todos os interessados na saúde econômica do país. E sobre a Previdência, disse que cabe a ele e não ao governo determinar o tempo da votação da reforma na Câmara.
Também não deu mole ao ministro da Casa Civil, Onix Lorenzoni. Disse não acreditar que o ministro tenha trabalhando contra ele em razão do número de votos que teve e que o elegeram no primeiro turno, a menos que Onix fosse incompetente. O presidente da Câmara foi explícito ao condenar a manobra conduzida pelo candidato de Onix na eleição da presidência do Senado contra Renan. O interessante é que Onyx é do seu partido. Parece que Rodrigo Maia já elegeu seu principal adversário no governo.
De uma coisa se pode estar certo em relação ao presidente da Câmara, ele sabe o que quer e por onde deve ir para obter os resultados que precisa. Se o que ele quer será bom para o Brasil? Pode ser, pode não ser. O que importa é que o deputado se fortaleceu, ficou grande, ganhou autonomia e passará a dividir o poder com o presidente da República. O que significa que ele pode ser uma pedra no sapato do governo Bolsonaro, mesmo sendo explicitamente liberal e conservador.
PS: Dois pontos. 1) As cenas de golpes e contragolpes vistas no Senado na sexta-feira foram muito mais do que constrangedoras. Foram dignas de filme, tamanha a inverossimilhança. 2) O constrangimento da senadora Leila do Vôlei era inteiramente contrário da voluntariedade do aloprado Jorge Kajuru. A TV Senado vai bombar.