Um certo grau de barata-voa é até normal na largada, mas vaivém começou a perder a graça
Num dos episódios clássicos de “Seinfeld”, a melhor sitcom da TV americana, exibida nos anos 90, o personagem sem nenhum caráter George Costanza é demitido numa sexta-feira e volta ao trabalho na segunda, como se nada tivesse acontecido.
Lembra o que ocorreu nesta semana com o breve presidente da Apex, a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos. Alex Carreiro foi dispensado por seu superior, o chanceler Ernesto Araújo, mas se recusou a deixar o posto —até que o presidente interveio, e ele saiu.
O jovem governo de Jair Bolsonaro chega ao seu 13º dia com um quê de série cômica. Protagonizou dez recuos, sendo os mais recentes a suspensão da suspensão da reforma agrária e o cancelamento das mudanças no edital de compra de livros didáticos.
É natural e até esperado um certo grau de barata-voa na largada de uma administração, ainda mais no caso do grupo ora no poder, que traz consigo uma mudança nos códigos e sinais da política que vinha sendo feita, com sucessos e fracassos, há duas décadas no Brasil.
A coisa perde a graça quando os vaivéns são acompanhados de possíveis estelionatos eleitorais.
Empossado, o candidato que prometeu combater a corrupção e o apadrinhamento na administração pública colocou o amigo numa diretoria da Petrobras; seu vice viu o filho ter o salário triplicado num banco estatal; seu ministro-chefe da Casa Civil foi pego justificando despesas com notas fiscais seriadas de um conhecido; e tem o problema do desaparecido Queiroz.
Como em toda sitcom, no entanto, o governo conta com uma nêmesis caricata, e nesta semana o papel foi interpretado com louvor por Gleisi Hoffmann. A presidente do PT atravessou a rua para escorregar na casca de banana que foi a posse do ditador Nicolás Maduro, eleito num pleito de mentirinha na Venezuela.
E ainda estamos na metade do primeiro mês.