Presidente apela para risco da volta do PT e deixa planos concretos em segundo plano
Nos discursos que abriram os quatro anos de governo de Jair Bolsonaro, o inimigo foi protagonista. O novo presidente mostrou que pretende reproduzir durante o mandato a dinâmica de embate com o PT que alimentou sua popularidade durante a eleição.
Empossado, Bolsonaro não se desviou da retórica de campanha porque o fantasma da esquerda é uma de suas principais fontes de poder. É por isso que ele costuma repetir que o fracasso de seu governo abriria caminho para a volta dos petistas.
Essa ameaça deve ser explorada a partir de agora pelo presidente para cristalizar apoio popular a sua gestão. Cada medida anunciada virá acompanhada de um alerta implícito: é isso ou o retorno da esquerda.
O mesmo vale no Congresso. As propostas de Bolsonaro serão embaladas em um falso voto de confiança, em que os parlamentares serão instados a decidir se querem aprovar os planos do presidente ou optar pelos estertores da era petista.
A assombração toma contornos realistas quando Bolsonaro evoca escândalos de corrupção protagonizados pelo PT e a crise provocada pela política econômica de Dilma Rousseff. Ele apela para falsificações grosseiras, porém, quando busca oponentes imaginários.
Do alto do parlatório, o presidente disse que sua posse marca “o dia em que o povo começou a se libertar do socialismo”. Ainda que muitos integrantes dos governos Lula e Dilma tenham simpatia por regimes socialistas, o Brasil não passou perto de qualquer experiência do tipo.
Ao atacar a contaminação ideológica, Bolsonaro apresentou poucas soluções concretas para os problemas do país. Só manteve os pés no chão ao falar de segurança pública, propondo a flexibilização da posse de armas e mudanças na lei para atenuar a responsabilização de policiais.
O foco nesse embate com a esquerda era tão intenso que Bolsonaro deu um escorregão. A versão original de seu segundo discurso falava em diminuir a desigualdade social. No parlatório, ele omitiu o trecho.