Depois de 13 dias de sumiço, o motorista de R$ 1,2 milhão terá que se explicar ao Ministério Público. Se depender dos antigos chefes, a conta vai sobrar para ele
Fabrício Queiroz vai sair da toca. Pelo menos é o que espera o Ministério Público, que pretende ouvi-lo hoje no Rio. Ainda não se sabe como o motorista vai explicar sua movimentação bancária, mas uma coisa é certa: se depender dos antigos chefes, a conta vai sobrar para ele.
Ontem o primeiro-filho voltou a ser questionado sobre as transações suspeitas de Queiroz. Ele deu de ombros e tentou atirar a responsabilidade no colo do funcionário. “Quem tem que dar explicação é o meu ex-assessor, não sou eu. A movimentação atípica é na conta dele”, disse Flávio Bolsonaro.
O senador eleito se irritou com os repórteres que faziam perguntas sobre o assunto. “Deixa eu trabalhar, deixa eu trabalhar. Não tem nada de errado no meu gabinete”, afirmou. O presidente eleito preferiu fugir dos microfones. Ele chegou a ser anunciado na diplomação do herdeiro, mas não apareceu.
É compreensível que Flávio não veja “nada de errado” no próprio gabinete. A questão é saber se os promotores concordam com ele. Até aqui, sabe-se que um motorista com renda de R$ 21 mil movimentou mais de R$ 1,2 milhão em um ano. Ele recebeu repasses de outros oito assessores do deputado, em datas que coincidem com os dias de pagamento na Alerj.
De acordo com o Coaf, Queiroz sacou R$ 324 mil em espécie. Ainda não se sabe onde a dinheirama foi parar, mas ele deixou uma pista ao assinar um cheque de R$ 24 mil para a futura primeira-dama.
Desde que o caso veio à tona, há 13 dias, o motorista desapareceu. Não foi visto no antigo local de trabalho nem nacas a simples em que mora coma mulher. O deputado já admitiu que se encontrou com o ex-funcionário, mas não revelou seu paradeiro. Ao que tudo indica, também não vê “nada de errado” no sumiço.
Depois de faltar à diplomação do filho, o presidente eleito voltou a reclamar da imprensa. “Eu acho que esse jornalismo não é produtivo”, opinou, em transmissão no Facebook. A primeira-família parece sonhar com um país em que repórteres não fazem perguntas incômodas. Nessa terra abençoada, motoristas, caseiros e ex-mulheres também devem viver em eterno silêncio.