Eleição deu força e corpo à direita, mas, pela própria dinâmica da campanha, acabou fortalecendo a democracia
O presidente Jair Bolsonaro teve uma vitória convincente, que permite a ele levar com sucesso a sua agenda ao Congresso e ao país. Mas na festa de ontem houve alguns problemas. Primeiro, o presidente eleito mostrou duas faces nos pronunciamentos iniciais. Primeiro, falou de improviso, usando palavras de divisão com ataques à imprensa e aos “comunistas”. No segundo discurso, escrito, falou seguidamente em liberdade, democracia, Estado de Direito. Só em uma terceira fala é que ele foi mais explícito ao falar de conciliação e se referira todos os brasileiros.
Esse era um gesto importante aos 47 milhões que não votaram nele e que se assustaram com o tom da sua campanha contra as minorias. Por outro lado, o candidato derrotado, Fernando Haddad, falou apenas para os que votaram nele, um discurso ainda de combate, e não de respeito aos 57 milhões de eleitores que preferiram Jair Bolsonaro.
Esta foi uma eleição tão intensa que demoraremos a processar todos os aspectos. Ela tirou inúmeras peças do lugar. Revogou as velhas clivagens e deu força e corpo à direita. Provocará um realinhamento partidário. Convocou os cidadãos a reencontrar as questões esquecidas. Mas pela própria dinâmica da campanha, ela acabou fortalecendo a democracia. As instituições se pronunciaram, como ontem o presidente do STF, Dias Toffoli, e o compromisso com a democracia continuará sendo cobrado do vencedor.
A movimentação dos eleitores nos últimos dias, melhorando a votação do candidato derrotado, foi fundamental para reforçar os limites constitucionais no qual o presidente eleito governará. Ele, em termos de diferença para o segundo colocado, só ganha da Dilma no segundo mandato. Bolsonaro não recebeu uma donataria, mas sim a chefia do executivo de uma República, por um tempo e com regras estabelecidas há 30 anos na Constituição.
O novo presidente precisará urgentemente tratar de economia, sem os clichês com que o tema foi tratado até agora. Ontem no discurso ele fez boas promessas, de ataque ao ajuste fiscal e de reversão da trajetória da dívida. O Brasil, é bom que a política não esqueça, está enfrentando a sua pior crise da era do real. O ajuste terá que ser de R$ 300 bilhões para que o país saia do vermelho.