Não bastasse o cenário adverso, petistas prejudicam a própria estratégia
Não bastasse o cenário já adverso, Fernando Haddad e sua campanha deram munição ao campo adversário na reta final do segundo turno. Atropelados por Jair Bolsonaro (PSL), os petistas entraram pela porta errada no embate decisivo da eleição e conseguiram sabotar suas próprias estratégias.
Em sabatina no jornal O Globo nesta terça (20), Haddad fez uma acusação infundada contra o vice de Bolsonaro. O candidato do PT disse que o general da reserva Hamilton Mourão havia sido “ele próprio torturador” na ditadura militar. E acrescentou: “Deveria estar em todas as primeiras páginas amanhã”.
Haddad reproduziu uma informação falsa —e de forma imprudente. O petista se baseou numa afirmação do cantor Geraldo Azevedo, que de fato foi barbaramente torturado, mas não por Mourão. O artista se retratou e pediu desculpas, embora tenha mantido suas críticas à candidatura de Bolsonaro.
A campanha petista aposta suas fichas no discurso de que o deputado do PSL se beneficiou de uma máquina de distribuição de mentiras —o que é verdade, em boa medida. O episódio prejudica essa tática.
A propaganda de rádio em que o partido tenta tirar proveito do assunto foi outro um tiro no pé. Na peça, a campanha diz que Bolsonaro tem um “voto de cabresto imposto pelo medo e pela mentira”. Ao insinuar que os eleitores do rival são manipulados, o PT consegue afastá-los ainda mais, a dias da eleição.
O sentimento de rejeição aos petistas fez com que Haddad ficasse parte do segundo turno na defensiva. Por vários dias, ele precisou explicar o fracasso da formação de uma frente ampla contra Bolsonaro. O apoio crítico de Marina Silva só chegou na semana final.
O petista ainda se viu obrigado a reagir ao rival em seus próprios redutos eleitorais. Para ganhar votos no Nordeste, Bolsonaro propôs um 13º para o Bolsa Família. O programa tem a marca do PT, mas Haddad teve que anunciar um aumento do benefício para não perder mais terreno.