Luiz Carlos Azedo: Cenários possíveis

“Bolsonaro larga à frente de Haddad. Ambos, estão fazendo uma campanha olímpica. O primeiro, nas redes sociais; o segundo, à sombra de Lula”.
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

“Bolsonaro larga à frente de Haddad. Ambos, estão fazendo uma campanha olímpica. O primeiro, nas redes sociais; o segundo, à sombra de Lula”

Há três possibilidades nas eleições de hoje, todas com Bolsonaro à frente nas pesquisas. A mais provável é um segundo turno entre o candidato do PSL e o petista Fernando Haddad, numa disputa radicalizada entre direita e esquerda. Duas outras são matematicamente possíveis: uma vitória de Bolsonaro no primeiro turno, que não pode ser descartada, ou o surgimento de uma terceira via, com um estouro de boiada em direção a Ciro Gomes (PDT), o que é quase impossível. Geraldo Alckmin (PSDB), Marina Silva (Rede), João Amoêdo (Novo), Álvaro Dias (Podemos), Henrique Meirelles (PMDB) e Cabo Daciolo (Patriotas) cumprirão tabela; se isso ocorrer, garantirão o segundo turno.

No cenário mais provável, Jair Bolsonaro largará à frente de Fernando Haddad no segundo turno. Ambos, até agora, estão fazendo uma campanha olímpica. O primeiro, basicamente nas redes sociais, em razão da recuperação da facada que recebeu em Juiz de Fora há cerca de um mês; já o petista, na aba do chapéu do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, aposta na campanha de rua e na mobilização petista. Bolsonaro conseguiu faturar boa parte da campanha do “voto útil” do chamado “centro democrático”; a fatia menor ficou com Ciro. Haddad fechou os espaços para Guilherme Boulos (Psol), uma caricatura de Lula quando jovem, e faturou os votos de Lula que migravam para Ciro e Marina, exceto nos seus estados de origem, Ceará e Acre, respectivamente. A interrogação é saber se os votos de Lula que migravam para Bolsonaro voltaram ao leito petista. Aparentemente, uma parcela continua com o capitão reformado.

Em 2002, Lula obteve 25% dos seus votos no segundo turno no Nordeste; em 2010, 33% dos votos de Dilma Rousseff estavam da região. Em 2014, o Nordeste ultrapassou o Sudeste em importância eleitoral para o PT, que obteve 37% dos seus votos na região, contra 36% no seu leito histórico. Sete em cada dez nordestinos (71,7%) votaram em Dilma. No último Data Folha, o petista parou na faixa de 37%. Bolsonaro tem 20% e Ciro, 16%. No segundo turno, é possível que os votos de Ciro migrem para Haddad, maciçamente; hoje, esses votos podem fazer falta para impedir uma eventual vitória de Bolsonaro no primeiro turno.

Bolsonaro lidera em todas as demais regiões do país, com grande vantagem em relação a Haddad: 45% a 18% na região Sul; 41% a 17% no Centro-Oeste; 36% a 25% no Norte; e 39% a 16% no Sudeste, região que concentra o maior contingente eleitoral do país. Bolsonaro já tem maioria dos votos válidos no Acre (60%), em Mato Grosso (51%), em Rondônia (55%), em Roraima (60%) e em Santa Catarina (55%). Haddad está à frente no Maranhão (52%) e no Piauí (54%). Bolsonaro vence entre os homens por larga margem (42% a 22%) e ultrapassou Haddad entre as mulheres (28% a 23%). Lidera em toda as faixas etárias, mas, principalmente, entre os jovens (33% a 19%, na faixa de 16 a 24 anos; e 38% a 20%, na faixa de 25 a 34 anos). Haddad, porém, vence entre os eleitores de menor escolaridade (28% a 23%) e com renda até dois salários-mínimos (28% a 22%), a principal base eleitoral de Lula.

Alianças

O xis da questão no segundo turno será conquistar o eleitorado que votou nos demais candidatos. Por gravidade, a maioria se desloca à revelia dos postulantes que apoiou. Acompanha a tendência do voto útil no primeiro turno, o que já ficará claro hoje à noite. Mas, isso não significa que as alianças com candidatos e partidos derrotados não sejam importantes, quando nada no Congresso, por causa da governabilidade. Ou seja, é preciso que o presidente eleito consiga formar maioria para poder viabilizar seu programa de governo. Bolsonaro deve atrair a maioria dos partidos do chamado Centrão (PP, PR, PSD, PRB, PEN, PTN, PHS), com quem chegou a negociar uma coligação, sem sucesso. Haddad, com certeza, atrairá o PSB, o PDT e o Solidariedade. O chamado “centro democrático” (PSDB, DEM e PPS), que virou marisco na disputa, deve implodir no segundo turno.

As últimas simulações estão dando ampla vantagem para Bolsonaro, que já subiu no salto alto: “Se vencermos, já começamos diferentes dos outros. Estamos livres para escolher nossa equipe pelo critério técnico e pela eficiência. Não devemos cargos nem favores que coloquem em xeque a autonomia de nosso governo e a soberania de nosso país. Nossa aliança é com a sociedade!”, disse ontem no Twitter. Haddad faz a mesma coisa com sinal trocado: promete cumprir a risca o programa apresentado pelo PT, sem concessões ao mercado. Para vencer no segundo turno, porém, terá que reverter a distância que o separa de Bolsonaro. Será mais difícil se não flexibilizar o discurso petista no segundo turno.

Nas entrelinhas: Cenários possíveis

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