Míriam Leitão: Bancadas médias e menos partidos

Próximo governo apresentará reformas a um Congresso menos fragmentado e com mais bancadas médias. Partidos grandes devem encolher.
Foto: Agência Câmara
Foto: Agência Câmara

Próximo governo apresentará reformas a um Congresso menos fragmentado e com mais bancadas médias. Partidos grandes devem encolher

Qualquer que seja o resultado da eleição, o próximo Congresso terá menos partidos, e as bancadas das grandes siglas devem encolher. Haverá mais bancadas médias. Isso é resultado da cláusula de desempenho que levará algumas legendas a definharem mesmo que consigam eleger parlamentares, porque a partir do ano que vem ficarão sem recursos eleitorais: dinheiro e tempo de TV. Isso redefinirá o quadro partidário e o comportamento do Congresso. Talvez facilite a governabilidade.

— Hoje, a Câmara brasileira é a mais fragmentada do mundo. O país tem 35 partidos, nem todos obviamente com representação, mas a legislatura deve ter 18. Haverá uma compactação, mas será ainda muito grande —diz o cientista político Jairo Nicolau.

Nessa eleição intensa, em que a polarização reduziu o espaço da discussão racional, pouco se pensou no que vai acontecer com a Câmara, onde serão aprovadas ou rejeitadas as medidas do próximo governo.

A se confirmarem os resultados das pesquisas, o que acontecerá com a Câmara? O PSL, que elegeu apenas um deputado em 2014, hoje tem bancada de oito. Vai eleger mais, mas dificilmente será um grande partido. Na opinião de Jairo, na hipótese de vitória de Jair Bolsonaro, o que pode acontecer é ser criada uma nova sigla de direita que leve parte dos parlamentares ultraconservadores. Na hipótese de vitória do PT, ele corre o risco de ter uma bancada menor do que a que tem hoje, de 61 deputados. E terá que buscar uma aliança com os quais se alinhou no passado:

— Será curioso ver o PT entregando ministério ao PP ou outros que atuaram pelo impeachment.

Os “nanopartidos”, segundo Jairo, dificilmente atingirão 1,5% dos votos ou 1% em nove estados. Eles continuarão existindo, como entidades da sociedade civil, mas ele considera que alguém que se eleger por um deles tenderá a migrar para os maiores. Ou então serão criados outros partidos para a reorganização partidária que a reforma estimula. Mas entre as grandes bancadas, quem deve diminuir de tamanho?

— O MDB perderá, sem dúvida, hoje já tem a menor bancada da sua história (51) e deve perder mais. Deve cair para terceira ou quarta. O PT perdeu prefeituras importantes em 2016, mas tenta compensar lançando puxadores fortes de bancadas nas eleições para a Câmara, como a Marília Arraes, em Pernambuco, e Gleisi Hoffmann, no Paraná. O que mais ajuda a prever a bancada futura é a atual. Partidos de 30 não chegarão a 5, as oscilações serão na margem.

O PSDB deve diminuir, mas não muito, apesar do péssimo desempenho de Geraldo Alckmin, porque deve sair com uma boa bancada de Minas, alguma coisa no Rio Grande do Sul, onde o candidato a governador está tendo um bom desempenho, e o interior de São Paulo é forte em prefeituras tucanas. Não será uma derrota humilhante.

O PSB perdeu um pouco o ímpeto, por não ter candidato a presidente. Vai depender do Márcio França em São Paulo, mas a crise com Márcio Lacerda, em Minas, mostra que o partido agiu mal. O PP permanecerá grande e buscará aderir ao vencedor. Naturalmente ele irá para o Bolsonaro se ele ganhar. Se o PT vencer, dará uma cambalhota e voltará a se alinhar os petistas —diz Jairo.

A sociedade pediu renovação, e o sistema político entregou os recursos eleitorais para os mesmos. Por isso, a grande diferença será a cláusula de barreira, que será um incentivo para que os parlamentares troquem os partidos muito pequenos pelos médios. A crise política provocada pela corrupção, denunciada pela Lava-Jato, será um limitador de crescimento das agremiações tradicionais. Qualquer que seja o vencedor, ele terá que fazer um esforço para se compor com esses mesmos partidos:

— A chapa do PT é a mais estreita da sua história. A coligação de Dilma tinha 10 partidos, parte do centrão estava com ela, a de Fernando Haddad tem três.

Não será difícil para o próximo governo, seja ele qual for, formar uma aliança com os parlamentares. O difícil será conduzir mudanças prometidas em campanha ou medidas para equilibrar as contas públicas. A única vantagem será o país começar a fazer, ainda que pelas bordas, uma reorganização partidária. O primeiro passo será reduzir o número de partidos. E nisso há uma chance concreta.

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