Míriam Leitão: No ninho goiano dos tucanos

Marconi Perillo tomou algumas boas decisões que foram desfeitas por seus próprios erros e agora precisa explicar dinheiro vivo na campanha.
Foto: Wilson Dias/ABr
Foto: Wilson Dias/ABr

Marconi Perillo tomou algumas boas decisões que foram desfeitas por seus próprios erros e agora precisa explicar dinheiro vivo na campanha

O ex-governador Marconi Perillo, do PSDB, não dormiu ontem numa prisão apenas porque está sob proteção da lei eleitoral. A Operação Cash Delivery mostra que, mais de quatro anos após o início da Operação Lava-Jato, os sinais explícitos de corrupção, inclusive quantia exorbitante de dinheiro vivo na mão de assessores, rondam as campanhas políticas.

A sensação de corrupção generalizada tem alimentado o desânimo e a raiva dos eleitores neste momento perigoso que o país atravessa. Marconi Perillo administrou Goiás por quatro vezes e poderia ter sido a renovação dos tucanos. Houve áreas em que ele tomou decisões corretas que levaram a bons resultados. Na educação, Goiás estava no 16º lugar em 2009.

Os especialistas em educação apontam a melhora na gestão como explicação para o sucesso. Não houve aumento de gastos. Goiás ficou nos mesmos 25% da receita corrente líquida, mas o dinheiro passou a ser mais bem administrado e por isso o estado chegou ao primeiro lugar no Ideb do ensino médio de 2017, divulgado recentemente. Esse sucesso na educação poderia ser usado como plataforma para projetos políticos mais altos. Se ele não tivesse cometido os erros que cometeu.

Na área fiscal, Goiás começou a melhorar depois de ter sido companhia para os estados que estão em pior situação, como Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. No ranking do Tesouro, esses estados são letra D, Goiás conseguiu subir para C após uma série de medidas corretas na área da administração fiscal. Uma delas foi corrigir um erro que ele mesmo havia cometido.

Em 2014, Marconi Perillo concedeu um aumento salarial para a área de segurança que, feitas as contas, demonstrou ser impagável. Ele mesmo chamou os sindicatos e os líderes do governo e negociou uma fórmula para diminuir o aumento concedido. Em 2016 ele vendeu a Celg, empresa de energia, e entraram R$ 850 milhões no caixa. Goiás fechou aquele ano com R$ 1,36 bilhão de superávit.

Em 2017, já em clima pré-eleitoral, o governo de Perillo passou a desfazer o que havia feito. O ágio do leilão da Celg, por exemplo, que deveria ter sido usado para reduzir a dívida, ou investido para melhorar a logística de uma região que depende do agronegócio, foi desperdiçado em obras para cimentar a relação com os prefeitos. Ontem foi preso, entre outros, Jayme Rincón. As ligações com Perillo são muitas. Foi seu tesoureiro e hoje coordena a campanha à reeleição do tucano José Eliton que o sucedeu no governo.

Na casa do motorista particular de Rincón foram encontrados R$ 940 mil em dinheiro vivo. A operação foi baseada no depoimento dos delatores da Odebrecht Fernando Reis e Alexandre Barradas, que informaram terem pago R$ 10 milhões às campanhas de Perillo de 2010 e 2014. A defesa protesta e acusa a operação de ser eleitoreira. E o quase R$ 1 milhão em dinheiro vivo na casa do motorista do ex-tesoureiro e atual coordenador de campanha do aliado, é eleitoreiro ou é coincidência?

O Brasil está desde março de 2014 vivendo um festival interminável de exibição de mau comportamento dos políticos. O ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral, que poderia ter sido a renovação do PMDB no estado, se afundou na mais torpe e doentia corrupção.

Durante seu governo, Cabral melhorou a educação, saindo de 26º para 4º lugar no Ideb. Tocou adiante um projeto na área de segurança que melhorou de fato os indicadores de violência, até que o próprio governo naufragou. Ontem foi mais um dia em que restou comprovado que o combate à corrupção é tão amplo quanto o próprio problema, e jamais foi uma perseguição seletiva ao PT como o partido gosta de dizer para justificar o injustificável perante a militância.

Todos esses escândalos foram usados pelo candidato Jair Bolsonaro para apresentar-se ao eleitor como aquele que não se corrompeu. Os fatos não confirmam isso. Pelo contrário, a denúncia publicada na “Veja” deste fim de semana é mais uma comprovação de que ele não é o político que diz ser. Com manipulação, desculpas esfarrapadas, estratégias jurídicas bem sucedidas, decisões inexplicáveis de ministros do Supremo, e a reação dos políticos, a Lava-Jato vem sendo ameaçada. E ela é que nos trouxe a chance de mudar a política e a economia do país.

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