O atentado contra Jair Bolsonaro aprofundou ainda mais a crise de tolerância que dilacera o país
O atentado contra o candidato Jair Bolsonaro coroa a magnífica onda de intolerância que atravessa o país desde a campanha presidencial de 2002. Inúmeras vezes militantes de PT e PSDB trocaram sopapos em nome de seus candidatos. Uma militante arrancou a dentada um dedo da mão de adversária com quem batia boca num bar do Leblon, no Rio de Janeiro.
A partir daí a intolerância cresceu e passou à etapa de contágio durante o mensalão. O início foi parlamentar, a falta de razoabilidade tomou conta do Congresso durante a CPI dos Correios e do julgamento do escândalo no Supremo Tribunal Federal. Em seguida ganhou as ruas e contaminou o Brasil.
Nas manifestações de 2013 ela apareceu mascarada e atendia pelo nome de black blocs. Durante o processo de impeachment de Dilma Rousseff e ao longo do julgamento, da condenação e da prisão do ex-presidente Lula ganhou o ar sombrio do dilúvio. Uma caravana petista com a presença do ex-presidente foi objeto de atentado ao ser atingida por bala numa estrada no Rio Grande do Sul.
As redes sociais fundaram guetos em que os manifestantes mais bem qualificados eram aqueles que mais virulência empregavam ao atacar seus “inimigos”. Amizades de anos foram desfeitas. Achava-se que o fundo do poço havia sido alcançado. Não fora, como se viu ontem, em Juiz de Fora.
O atentado contra Bolsonaro aprofundou a crise de tolerância que dilacera o país. Lula, professor titular da cadeira “Nós contra eles”, precisa ser mencionado. Embora tenha sido objeto de atentado no Rio Grande do Sul, foi autor das mais importantes páginas de intolerância deste país.
O próprio candidato do PSL agora agredido alimentou essa onda com seu rotineiro discurso de ódio.
Há dois dias, num palanque no Acre, Bolsonaro disse que queria ter uma arma na mão para “metralhar os petralhas”.
A facada em Jair Bolsonaro, o tiro contra a caravana de Lula, o dedo arrancado a dentada, os guetos das redes sociais são ingredientes da mesma fogueira que arde no Brasil. Se opor à opinião do outro com intransigência pode mesmo acabar de maneira brutal e sinistra.