Fausto Matto Grosso: Requiem aeternam para Luzia

Enterrada por cerca de 12 500 anos, Luzia foi desenterrada no início dos anos 1970. A descoberta do seu crânio fossilizado, o mais antigo encontrado na América, foi obra da arqueóloga francesa Annette Laming-Emperaire. O crânio foi descoberto em escavações na Lapa Vermelha, uma gruta no município de Pedro Leopoldo, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Na antropologia ficou conhecida, mundialmente, como um exemplar do “Homem da Lagoa Santa”.
Foto: Reprodução/Museu Nacional
Foto: Reprodução/Museu Nacional

Enterrada por cerca de 12.500 anos, Luzia foi desenterrada no início dos anos 1970. A descoberta do seu crânio fossilizado, o mais antigo encontrado na América, foi obra da arqueóloga francesa Annette Laming-Emperaire. O crânio foi descoberto em escavações na Lapa Vermelha, uma gruta no município de Pedro Leopoldo, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Na antropologia ficou conhecida, mundialmente, como um exemplar do “Homem da Lagoa Santa”.

Os fósseis são as principais fontes de informação utilizadas pelas pessoas que estudam a origem da humanidade. Falta muito ainda para completarmos nossa história natural. A moderna tecnologia hoje disponível, como a datação pelo método urânio-tório, os estudos de DNA, a impressão 3D, entre outras, nos levarão a muitas novas descobertas.

Pesquisas atuais lideradas pelo paleontologista Don Swanson, do Museu de História Natural de San Diego, Califórnia, estão a indicar que o homem chegou à América 115.000 anos antes do que se acreditava até agora. Como se vê, falta muito ainda para completarmos nossa história natural. Daí a importância da preservação dos fósseis humanos como de Luzia.

O estudo da morfologia craniana de Luzia revelou traços que lembram os atuais aborígenes da Austrália e os negros da África. Esse fato desmontou uma versão hegemônica de que o homem americano provinha de uma única corrente migratória. Os homens-caçadores asiáticos provenientes da região do Cáucaso e da Sibéria, durante a última glaciação, teriam atravessado do Estreito de Bering e chegado à América.

A partir da descoberta de Luzia, passou-se a acreditar em duas migrações separadas, uma por Bering e outra transoceânica, segundo a qual homens que habitavam a Polinésia (na região da Oceania) se locomoveram em direção à América do Sul em pequenos barcos. Esses teriam se movido por meio das correntes marítimas que os conduziram. Luzia ajudou a sabermos quem somos e de onde viemos.

Seria isso importante?
O senador Cristovam Buarque, que entre 2003 e 2004, como Ministro da Educação do governo Lula, lançou as diretrizes da Política Nacional de Museus, recentemente respondeu afirmativamente a isso, dizendo que o povo que não respeita os museus, não respeita seus antepassados. “O museu é o álbum de retrato do povo”, disse. Afirmou ainda, que o incêndio do Museu Nacional foi uma “uma tragédia sem precedentes” – “cremamos a memória do Brasil” clamou o senador.

Há que ressaltar também a desmoralização internacional do Brasil, que se mostrou incapaz de administrar um patrimônio, que não é apenas nacional, mas mundial. Foi um constrangimento para o País no exterior, especialmente perante a comunidade científica e cultural mundial.

Alguns haverão de defender que faltou dinheiro por causa da crise econômica, mas governar é definir prioridades. Convém lembrar que o governo Dilma queimou dinheiro com as Olimpíadas e a construção de 12 estádios para a Copa do Mundo de 2014. Os garotos propagandas dessa causa eram o governador Sérgio Cabral e o Presidente Lula, este ensandecido pelo sucesso efêmero, tentava ser Secretário-Geral da ONU. Uma total irresponsabilidade que hoje nos cobra a conta.

Luzia, a primeira brasileira, ao que parece destruída definitivamente pelo fogo, foi enterrada novamente, pelas cinzas. Cantamos enlutados a sua nova despedida.

Triste situação de uma Nação que não valoriza a cultura.

 

 

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