Míriam Leitão: O país parado no meio do caminho

PIB do segundo trimestre deve vir fraco e expor os efeitos da greve do setor de transportes e das incertezas da corrida eleitoral no país.
Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

PIB do segundo trimestre deve vir fraco e expor os efeitos da greve do setor de transportes e das incertezas da corrida eleitoral no país

Quando o IBGE divulgar na sexta-feira o PIB do segundo trimestre ficarão claros os pesos que puxam para baixo a economia este ano: a greve do transporte de carga, a incerteza eleitoral, o ambiente externo desfavorável. Tudo junto, o país ficou parado de abril a junho, apesar de o ano ter começado com a expectativa de um crescimento do PIB em torno de 3%. A saída da nossa mais profunda recessão tem sido também a mais lenta.

A greve parou o país por 11 dias, derrubou todos os indicadores de maio, encolheu a indústria e afetou a confiança de todos os agentes econômicos, o que continuou tendo efeitos. Ontem a Fundação Getúlio Vargas informou que a confiança da indústria em agosto caiu ao seu nível mais baixo desde janeiro. A paralisação também deixou como herança uma tabela de frete que está engasgada na cadeia produtiva, e um caríssimo subsídio ao diesel, de R$ 9,5 bilhões, que não é suficiente para impedir novos reajustes. Junto com o número do PIB, projetado para ficar em torno de zero no segundo trimestre, o país conhecerá o novo preço do diesel que, inevitavelmente, será mais alto.

O dólar subiu muito e há uma semana o repórter Alvaro Gribel, no meu blog, avisou que já havia atingido o ponto a partir do qual o subsídio de R$ 0,30 por litro não seria o suficiente para segurar o preço. Os primeiros três meses de preços estáveis terminam na sexta-feira e haverá nova fórmula e nova realidade para informar aos consumidores.

O problema não foi apenas a greve, por maior que tenha sido o impacto imediato da interrupção do transporte de carga do país. A eleição entrou na agenda e o que se vê é um quadro de enorme incerteza fiscal. O Orçamento de 2019 está indo esta semana para o Congresso com uma previsão de R$ 139 bilhões de déficit com despesas de pessoal e da Previdência crescendo mais uma vez em relação ao ano anterior.

Os indicadores setoriais de junho mostraram recuperação em “V” na indústria, a inflação também subiu e caiu em seguida, o comércio não conseguiu recuperar as perdas, e as exportações voltaram a subir. Mesmo assim, a queda foi forte e tudo contribui para que o resultado seja como registrou o “Valor” em sua pesquisa, na média, de 0,1%. Ou seja, estagnação. É sem dúvida boa a notícia de que a inflação tenha recuado e o IPCA caminhe para ficar um pouco acima de zero em agosto. Houve um tempo no passado em que a mistura de incertezas eleitorais, alta do câmbio e um choque na economia levava a inflação inexoravelmente para cima, e, com ela, a taxa de juros. A Selic permanece em 6,5%.

No mercado financeiro, há instituições que sequer fizeram o cálculo para o PIB do segundo tri, por causa da forte influência da greve sobre os números. A avaliação é que se os meses de abril a junho vierem muito fracos, isso será compensado de julho a setembro, em um efeito parecido com o que houve com a inflação.

— Temos que aguardar e depois fazer a média desse período todo. Não adianta olhar só para o segundo trimestre. O que mais nos preocupa neste momento é mesmo a incerteza eleitoral — explicou um economista.

O quadro externo também permanece incerto, ao sabor das idiossincrasias do presidente Donald Trump. Esta semana ele anunciou o “melhor acordo comercial do mundo” com o México, que é o mesmo Nafta com algumas exigências a mais feitas ao país, e com a exclusão do Canadá. Trump hostiliza os parceiros para depois oferecer o mesmo de antes, com algumas mudanças, e rebatiza o instrumento para ser o realizador. As exigências maiores de conteúdo nacional feitas aos mexicanos podem reduzir um pouco as exportações brasileiras de autopeças. Mas o pior efeito do trumpismo é mesmo a instabilidade e a incerteza que o presidente americano cria em todas as áreas.

As entrevistas com os economistas dos candidatos mais bem colocados nas pesquisas de intenção de votos mostram em maior ou menor grau a dificuldade de explicar na prática como farão para atingir os objetivos de reequilibrar as contas públicas e enfrentar os desafios fiscais gigantes que a pessoa que sair vitoriosa nas urnas terá que enfrentar. Por tudo isso, o ano de 2018 está sendo aquele no qual o país não consegue sair do chão, permanece parado no meio do caminho entre a grande recessão que vivemos e o crescimento que ainda não chegou.

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