Nunca houve uma eleição presidencial tão estranha e imprevisível quanto a de 2018. Pelo que se viu nas convenções partidárias de ontem, ninguém morrerá de tédio até outubro
O fim de semana marca o início oficial da corrida ao Planalto. Nunca houve uma eleição tão imprevisível —e, ao mesmo tempo, tão estranha — quanto a de 2018. Para quem acompanhou as convenções de ontem, uma coisa ficou clara: de tédio, não morreremos até outubro.
Em São Paulo, o PT lançou um candidato fantasma e reeditou o tom raivoso do passado. A presidente do partido, Gleisi Hoffmann, declarou guerra contra a “elite política”, o “sistema financeiro” e a “mídia golpista”. “Essa é a ação mais confrontadora que fazemos contra esse sistema podre”, vociferou.
O dono da festa não compareceu por motivos de força maior. Preso em Curitiba, Lula teve que enviar um discurso por escrito. Os petistas ensaiaram projetar sua imagem num holograma, mas a ideia não foi adiante. Sem o recurso high tech, apelaram para máscaras de papelão.
Em Brasília, Geraldo Alckmin começou o dia na convenção do PR, comandado por Valdemar Costa Neto. Na ausência do mensaleiro, sentou-se ao lado de Tiririca. O palhaço havia prometido abandonar a política, mas concorrerá a mais um mandato de deputado.
Na convenção do PSDB, o presidenciável elevou o tom contra os petistas e disse que “ninguém aguenta mais um Estado infestado pela corrupção”. No mesmo discurso, agradeceu o apoio de poderosos chefões do centrão que fecharam negócio com ele, como Roberto Jefferson e Paulinho da Força.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso proclamou que é preciso “botar na cadeia quem for necessário”. Réu por corrupção e obstrução de Justiça, o senador Aécio Neves achou mais prudente ficar em casa.
Ministro dos governos Dilma e Temer, Gilberto Kassab fez discurso de oposição e disse que Alckmin vai “recuperar o Brasil”. Ele prometeu ao tucano que estará a seu lado no ano que vem. Se ele não chegar lá, repetirá as juras para quem se eleger.
A dez minutos dali, Marina Silva se lançou mais uma vez ao Planalto. Será candidata pela terceira vez e pelo terceiro partido diferente. O número da campanha mudou, mas o clima badauê continua o mesmo. Sua convenção teve ciranda, flauta peruana e barraquinha de artesanato indígena.
Ao microfone, a ex-senadora ensaiou um figurino mais agressivo. Em busca do eleitor indignado, elevou a voz contra os grandes partidos, a corrupção, o desemprego, a violência. “Não dá mais! Não dá mais! Não dá mais!”, gritou, batendo no púlpito. O número estava ensaiado. Enquanto ela engrenava o coro, as palavras piscavam no telão.
Pelo Twitter, Janaína Paschoal anunciou aos “amados” que não será vice de Jair Bolsonaro. “Peço desculpas ao Brasil”, escreveu, em tom solene. Sem a doutora, o capitão deve formar chapa com o príncipe Luiz Philippe de Orléans e Bragança. Cento e vinte e nove anos depois da Proclamação da República, um descendente de dom Pedro pedirá votos aos plebeus. Por essa os monarquistas não esperavam.