Em apenas uma semana, Donald Trump conseguiu brigar com aliados do G-7, defender a Rússia, fazer uma cúpula-espetáculo com Kim Jong-un e iniciar uma guerra comercial com a China. Na quarta-feira, postou no Twitter: “durmam bem esta noite, não existe mais a ameaça nuclear”. Na sexta, o escritório comercial da Casa Branca, USTR, anunciou a lista de 818 produtos chineses que pagarão sobretaxa.
Em apenas uma semana o Banco Central brasileiro vendeu US$ 24,7 bilhões para tourear o dólar que ficou indócil durante todos os dias. A economia americana crescendo, os juros do Fed subindo, a incerteza presente no Brasil e no mundo, tudo isso foi batendo na relação entre as moedas. Nesta copa cambial, o peso argentino teve uma queda na quinta-feira de quase 7%. O mundo está um lugar cheio de riscos e complexidades e o “líder supremo americano” é aquele fator imprevisível.
A cúpula com a Coreia do Norte atraiu todos os olhares, obviamente, porque o presidente Trump atravessou meio mundo para falar de igual para igual e chamar de líder o ditador que era tratado como o mais desprezível dos governantes. Cúpulas históricas como a de Ronald Reagan e Mikhail Gorbachov, em 1986, e de Richard Nixon e Mao Tse- Tung, em 1971, foram preparadas com várias reuniões de assessores e seguidas por outras tantas reuniões antes que se pudesse dizer que haviam sido um sucesso. Esta foi instantânea. Pouca preparação e imediata comemoração como sendo o fim da ameaça nuclear.
Toda a pose de Kim Jong-un e sua inegável vitória nesse encontro não esconde o imenso desastre que tem sido a opção da ditadura dinástica que herdou do pai e do avô. Nos anos 1980, as duas Coreias tinham o mesmo PIB per capita. O crescimento da Coreia do Sul nos últimos 30 anos foi dos mais fortes em todo o mundo. Hoje, o PIB per capita da Coreia do Sul é estimado em US$ 32 mil enquanto na Coreia do Norte é de apenas US$ 1,8 mil. Mais de 80% dos sul-coreanos têm acesso contínuo à internet, no Norte o percentual é menor que 0,1%, segundo o jornal inglês “The Guardian”. As exportações dos norte-coreanos são de US$ 4 bilhões por ano, contra US$ 552 bi do Sul.
Ao ir até Cingapura e nem tocar na questão de direitos humanos da Coreia do Norte, o governo americano mostrou mais uma vez a relatividade dos seus valores. Dependendo da conveniência, os Estados Unidos podem denunciar os excessos das ditaduras ou ignorá-los. A família Saud, por exemplo, pode fazer coisas das arábias que não será cobrada.
A cúpula que atraiu os olhares não terá grande efeito na economia. A crise com os parceiros do G-7 pode acabar sendo contornada, apesar dos maus modos com que Trump tratou o premier do Canadá, em particular, e todos de forma geral. Aquela foto, Trump emburrado e sitiado, já nasceu histórica. Mas o que mais afeta a economia mundial é a perspectiva de guerra comercial com a China, que ficou mais concreta com o comunicado do USTR. Ao todo, exportações chinesas no valor de US$ 50 bilhões serão afetadas. A China já disse que retaliará os americanos.
É neste mundo que o Brasil vive a sua crise. O Banco Central prometeu vender mais US$ 10 bi para a semana que vem. Tem conseguido evitar uma alta mais forte do dólar. No dia 7 de junho, antes da entrevista do presidente do BC, Ilan Goldfajn, o dólar bateu em R$ 3,90. Ontem, fechou em R$ 3,73. Ilan disse que não haveria limites para o programa de swaps cambiais, que chegou ao recorde de US$ 110 bilhões no governo Dilma. A diferença é que a inflação está abaixo da meta e não se defende uma cotação, apenas tenta-se amenizar a volatilidade.
Serão meses difíceis até o fim das eleições em outubro. O dólar quando sobe desta forma torna todos os ativos mais instáveis, derruba os preços das commodities e impacta a inflação. O Brasil fará sua transição para o próximo governo num mundo que tem velhas confusões e um ingrediente novo: um presidente como Trump no comando da principal economia. Ele pode, numa mesma semana, fazer uma diplomacia pirotécnica, brigar com os amigos, e fechar o mercado para seu principal parceiro comercial.
(Com Alvaro Gribel, de São Paulo)