Nos ciclos das sedes, tanto o Brasil quanto a Russia viveram os descaminhos da Historia
A Rússia entra na semana decisiva: início da Copa do Mundo. Há quatro anos, era o Brasil. Ambos se candidataram com a esperança de projetar seus poderes particulares no mundo.
É um tipo de escolha arriscada, porque ninguém domina o futuro. Ao ser escolhido, o Brasil prosperava; durante a Copa de 2014, porém, já estava quase arruinado.
Da mesma forma, a Rússia tinha melhor relação com o Ocidente. Depois da anexação da Crimeia, ela perdeu seu lugar no chamado G-8 e sofreu sanções econômicas que podem dificultar o avanço tecnológico em alguns setores.
O Brasil, ao receber a Copa, procurou fortalecer como trunfo a felicidade e o sorriso dos brasileiros, enfim, um modo de vida. É o chamado “soft power”. A Rússia, embora procure ser perfeita na hospitalidade, não trabalha tanto com os recursos do “soft power”.
Para começar, quase todos os cursos de russo para quem vem ao país aconselham a não sorrir para estranhos, pois os russos reservam o sorriso para a família e os íntimos.
Na primavera, Putin anunciou os foguetes russos movidos a energia nuclear. O anúncio mostrava também a recuperação militar do país, depois das perdas sofridas com o colapso da União Soviética.
Não só na defesa como no campo espacial, a Rússia tem um papel de destaque. É um trunfo na sua política externa. Ela coopera com os Estados Unidos, tem projetos com o Brasil e, agora, na crise com o Ocidente, nas vésperas da Copa, anunciou uma parceria com a China.
A crise econômica no Brasil acabou resultando em manifestações populares contra a Copa e revelou as fragilidades do país, inclusive no campo ambiental.
A Rússia, segundo o “Moscow Times”, iniciou novos exercícios militares na Crimeia, com cem aviões. É um recado direto à Otan, que pretende criar uma força unificada diante do crescente poderio militar russo. Há uma outra diferença de expectativas. O Brasil pensava em mostrar ao mundo o poderio de seu futebol. A Rússia não tem ilusões nesse setor. A expectativa popular na seleção nacional é mínima.
Enquanto no Brasil que exporta craques para o mundo os jogadores são ídolos, na Rússia parece que esse lugar é ocupado por outras atividades, inclusive a de escrever. Num episódio recente, os jornalistas brasileiros registraram que havia pouca gente num evento sobre a Copa do Mundo. Ao mesmo tempo, uma pequena multidão se concentrava numa homenagem ao escritor Maksim Górki, morto em 1936.
Cada um tira da Copa do Mundo o que quer, e o único problema de quem é escolhido (e o próximo pode ser o Marrocos) são os oito anos de diferença: a História é cheia de armadilhas.