Intelectuais e parlamentares de sete legendas discutem alternativas aos extremos para a presidência
Por Afonso Benites, do El País
Não depende do que que as próximas pesquisas eleitorais apontarem. Seja qual for o resultado, ao menos sete partidos de centro-esquerda e centro-direita terão uma luta inglória até o fim de junho: desistir de suas candidaturas próprias ao Planalto e definir apoio a algum nome viável. O mais difícil nessa equação não seria a desistência em si, mas, sim, a escolha de um candidato competitivo. Com exceção de Jair Bolsonaro (PSL, que tem até 25%) e Ciro Gomes (PDT, que chega aos 12%), nenhum outro concorrente atingiu os dois dígitos nas pesquisas eleitorais – nem mesmo nos cenários pesquisados sem Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que dificilmente terá sua candidatura aceita por estar preso e condenado em segunda instância por corrupção.
O cálculo feito por um grupo de 32 deputados, senadores, cientistas políticos e intelectuais é o de que a difusão de candidaturas só beneficia o que eles caracterizaram como extremos: Bolsonaro, pela extrema direita, e Ciro, pela esquerda. “Se não nos unirmos, teremos de escolher entre a catástrofe e o desastre. A catástrofe é o Bolsonaro. O desastre, o Ciro”, criticou o senador Cristóvam Buarque (PPS-DF), um dos articuladores do movimento denominado Polo Democrático e Reformista. Segundo esse parlamentar, o grupo busca um candidato que seja “responsável fiscalmente, progressista socialmente e democrata politicamente”. Nenhum dos que lideram as pesquisas, em sua opinião, tem essas três características. Esse é o segundo momento dessa discussão. O primeiro, ocorreu em abril, como registrou o EL PAÍS.
Assim que o novo manifesto do grupo foi lançado, o primeiro sinal que se deu foi o de que o documento seria um apoio ao nome de Geraldo Alckmin (PSDB) para a presidência. Mas três políticos procurados pela reportagem negaram esse fato. E foram além: analisaram que quando o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) topou encabeçar o movimento, acabou enfraquecendo ainda mais a campanha de Alckmin.
Cardoso chegou até a cogitar um apoio à Marina Silva (REDE). Mas ao disputar sua terceira eleição presidencial consecutiva, Marina disse que não foi procurada por ninguém e que continuará sendo independente. “Desde 2010 que, em consonância com o desejo de mudança que perpassa diversos setores da sociedade brasileira, venho fazendo o esforço de quebrar a polarização que levou o país a essa grave crise”, disse.
E, sem o tucano, qual seria o candidato? Eis a questão. “É um processo que ainda vai decantar”, explica o deputado federal por Minas Gerais e secretário nacional do PSDB, Marcus Pestana. A sua análise coincide com o que vem sendo discutido por dezenas de especialistas. Com tantos candidatos (hoje há entre 14 e 19 pretensos concorrentes ao Planalto), quem chegar aos 15% ou 16% de votos válidos estará no segundo turno.
É algo parecido com o que ocorreu em 1989, quando o primeiro colocado, Fernando Collor (então no PRN), teve 30%, e o segundo, Lula (PT), atingiu 17%. “Tínhamos cinco candidatos de uma mesma ideologia. O melhor colocado deles foi Mário Covas, com 11%. Os outros, juntos, somaram 12%. Se estivéssemos unidos, estaríamos no segundo turno”, afirmou Pestana.
Essa corrida contra o relógio é fundamental para os políticos desse grupo. Entre 20 de julho e 5 de agosto, ocorrem as convenções que escolherão os candidatos. Antes, disso, contudo, os acordos já têm de estar selados. Desde que apresentaram o manifesto na terça-feira passada, outros 20 deputados e senadores se comprometeram a assiná-lo. Se o ritmo de adesões não aumentar, dificilmente terão sucesso. “Trouxemos o assunto para o debate. Agora, depende do diálogo entre os candidatos. É óbvio que todo candidato acha que vai ganhar. Mas eles têm de pensar mais no país que neles mesmos”, completou Pestana.
Uma das parlamentares que analisaram o documento, mas não foram convidadas a se juntar ao grupo, a senadora Simone Tebet (MDB-MS) diz concordar com a tese defendida por seus colegas. No entanto, acha que a teoria é mais real do que a prática, neste momento. “Não consigo visualizar na prática nenhum possível pré-candidato desistindo num ato talvez até de desprendimento em busca de uma alternativa única de centro”, afirmou Tebet, que é a líder de seu partido no Senado.
Conforme ela, o MDB dificilmente abrirá mão da candidatura do ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, ao menos por enquanto. “Ele nos mostrou pesquisas qualitativas que nos animaram. Mas temos de esperar as próximas semanas”.
Líder do Governo na Câmara e um dos caciques do PP, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) também diz que a proposta de unificação é interessante. Mas chega tarde. “Teremos uma campanha curta. Se começarmos a discutir nome agora, vamos acabar escolhendo alguém que ainda terá de se firmar. O tempo está findando”. Ribeiro diz ainda que, naturalmente, os partidos retirarão as candidaturas para evitar derrotas acachapantes nas urnas. “O próprio dia a dia vai forçar os próprios partidos a se posicionarem”.
Enquanto não há definição, os defensores de um enxugamento nas candidaturas se deparam com uma onda que pode atrapalhar seus planos. No PSD, uma pré-candidatura que era dúvida está se consolidando, a do ex-ministro Guilherme Afif Domingos. Seu empecilho seria o presidente da legenda, o ministro das Comunicações, Gilberto Kassab, que prefere um acordo com Geraldo Alckmin. No PR, o empresário Josué Alencar, filho do ex-vice-presidente José Alencar, tenta se apresentar como uma alternativa.
Além disso, entre os emedebistas, voltou a se especular o nome de Nelson Jobim como concorrente. Ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, ex-deputado federal, ex-ministro da Justiça e da Defesa, Jobim é apontado como um político experiente que poderia costurar alianças importantes. Mas nem ele mesmo ainda demonstrou interesse na disputa. As próximas semanas, serão cruciais para saber o número aproximado de concorrentes ao principal cargo da República brasileira.