Estávamos exilados no Chile. Corria o Governo de Salvador Allende, meses depois derrubado pelo golpe militar de 1973. Numa noite, tomando um bom vinho chileno Armênio me revelou, emocionado, que acabava de saber que seu irmão Célio Guedes, que trabalhava na seção de organização do Comitê Central do PCB, havia sido torturado e morto nos porões da ditadura brasileira.
A dor que aquela revelação causava em meu amigo era visível nos seus olhos e quase possível de se tocar com as mãos. Emocionei-me junto com ele e constatamos que a política da ditadura e de seus órgãos de repressão estava mudando para com o PCB: o assassinato se somava às mais bárbaras torturas.
Mesmo assim, naquele momento, Armênio fez questão de reafirmar que tal fato não mudava sua avaliação de que a política de amplas alianças, o aproveitamento de qualquer espaço legal para organizar o povo na luta pela democracia, adotada por nosso Partido, era a única que poderia derrotar a ditadura, sem permitir que a dor, a revolta e a indignação toldasse sua lucidez.