A eleição será definida pelos que não indicaram até agora a sua preferência. E é um mar de gente. Entre os pesquisados, 46% não têm candidato, e 21% preferem o voto nulo ou branco. Para onde vão esses dois terços do eleitorado? Os sem candidato podem se distribuir como os que já escolheram ou ir majoritariamente para um dos participantes. O não voto pode se decidir ou crescer.
Estamos a 147 dias das eleições e sabemos muito pouco. Toda a distribuição de preferência se dá nos 33% dos entrevistados que dizem saber em quem vão votar. O líder das pesquisas, Lula, é inelegível. O segundo e o terceiro lugar nessas pesquisas, Bolsonaro e Marina, têm somados 25% das intenções dos que sabem como vão votar, mas apenas 1%, cada um, dos recursos dos fundos partidários. Além disso, terão tempo exíguo de televisão. A maior parte do dinheiro público irá para partidos extremamente envolvidos nas denúncias de corrupção.
Na semana passada, Joaquim Barbosa, um dos pré-candidatos que mais causavam expectativa, saiu da disputa e isso aumentou a bruma que cerca o processo. Essa sensação de espaço vazio ajuda a pensar no que quer o eleitor de 2018. A primeira constatação é a de que o combate à corrupção é, de fato, uma das mais importantes demandas. Joaquim, como juiz do Mensalão, ficou com essa marca. Ele também é, por sua história, a representação viva da inclusão social pela educação. O mesmo atributo de Marina. Portanto, o sinal que dava era de reforço das políticas de inclusão. E esta é outra das demandas do eleitor.
O presidente Temer, em mais uma declaração infeliz para a coleção das suas impropriedades, disse que Joaquim Barbosa não poderia ser o presidente só por ser negro e ter sido pobre. Joaquim poderia ter almejado o cargo pelo conjunto das suas qualidades, várias delas o presidente nem compreende.
Será preciso também que o candidato saiba como fará o ajuste nas contas públicas que permita retomar o crescimento econômico e criar emprego. Os projetos econômicos começam a se esboçar, mas alguns estão falhos ou são voluntariosos. A economia melhorou diante do quadro deixado pelo governo Dilma. Isso não significa que se deve apoiar o governo atual, nem que se possa entrar em alguma aventura que revogue o que foi feito. Os acertos na economia dos últimos dois anos vão balizar o caminho.
Foi possível derrubar a inflação, que está há dez meses abaixo do piso da meta e, por isso, com capacidade de passar confortavelmente pelo período de pressões inflacionárias provocadas pela turbulência internacional. As contas externas em equilíbrio afastam o destino argentino. A recuperação do valor da Petrobras ensina, na prática, a vantagem da gestão profissional e da não indicação política. A empresa voltou a pagar dividendos aos acionistas e aumentou o volume de impostos pagos às três instâncias administrativas.
As contas públicas continuam com um enorme déficit, ainda que o fundo do poço tenha sido no governo passado. A atual equipe econômica conseguiu evitar o aprofundamento da queda, mas não há perspectiva de reversão a curto prazo. O próximo governo herdará contas com um enorme déficit e muitas demandas por gastos. Terá que fazer escolhas duríssimas. Na última semana, o chefe da Receita Federal, Jorge Rachid, disse que o ideal seria reduzir as renúncias fiscais à metade. Renúncia fiscal, ou abatimento nos impostos de setores ou de empresas, aumentaram muito nos últimos anos.
Alguns candidatos, à esquerda e à direita, insinuam projetos que vão estimular setores, isso significa gastar mais com empresários. Como disse Rachid, quando alguém recebe um incentivo, o resto da sociedade paga a conta. Ele diz isso, mas o governo se prepara para aprovar o Rota 2030, de subsídios à indústria automobilística. A força do lobby sempre é forte demais.
Os candidatos podem ser genéricos e superficiais no projeto econômico, mas quem for eleito terá que saber objetivamente o que fazer, porque o déficit e a dívida são tão altos que qualquer aventura precipitará uma crise. Falta pouco para as eleições, e candidatos e eleitores ainda estão mergulhados em um mar de dúvidas.