Cristovam Buarque: Retomada da coesão

Política e a sociedade atravessam um forte sismo.
Foto: Beto Barata\PR
Foto: Beto BarataPR

Política e a sociedade atravessam um forte sismo

O próximo presidente terá grandes desafios em seu governo: no início do terceiro século de nossa independência, o país vive um processo de desagregação social, descrédito político, déficits fiscais, endividamento geral. Ao mesmo tempo, passa por uma paralisia econômica, com baixa produtividade, poupança reduzida, falta de competitividade e inovação.

O sucessor de Temer será eleito num cenário em que a política e a sociedade atravessam um forte sismo, sem luz teórica e intelectual para definir o rumo do futuro. E se essa situação perdurar por mais algumas décadas, o Brasil ficará para trás no cenário das transformações que ocorrem no mundo.

Aconteceu isso na Primeira Revolução Industrial, quando preferimos as amarras da escravidão e da economia agrícola exportadora, sem capacidade educacional ou técnica. Quando escolhemos, ainda nesta época, o protecionismo, a falta de educação, de ciência e tecnologia.

Por essas e outras razões, em nenhum outro momento de nossa história republicana o Brasil precisou tanto de um partido que conduza o país na direção de sua recuperação. Nesse quadro, o PPS sobra como uma alternativa ainda com credibilidade, embora tratada e se comportando como uma legenda irrelevante.

O primeiro passo para a retomada da coesão nos próximos anos consiste em recuperar a credibilidade e o respeito da sociedade, dos seus dirigentes e políticos em geral. Para isso, o próximo governo deverá:

a. Extinguir todos os privilégios e mordomias que beneficiam os quadros dirigentes do setor público; b. Ter transparência nas relações entre os poderosos para impedir o uso do Poder Executivo sob a forma de cooptação, mensalão ou nomeação de parlamentares para ocupar cargos públicos (nepotismo e fisiologismo);

c. Eliminar os subsídios dados para financiar gastos de empresas com recursos públicos para beneficiar seus sócios e funcionários;

d. Combater a impunidade, inclusive pela manipulação do tempo de julgamento (métodos protelatórios);

e. Apresentar uma reforma fiscal que seja fortemente progressista e simplifique o sistema;

f. Enfrentar o crime organizado e a violência urbana, com responsabilidade e intervenção do governo federal.

Para um direcionamento em sintonia com o futuro das transformações em curso, serão necessários:

a. Definir e dar total apoio à constituição de um Sistema Nacional do Conhecimento e da Inovação;

b. Construir uma educação de base de qualidade, que ofereça ao país o aproveitamento pleno de cada cérebro brasileiro para que, em três ou quatro décadas, o Brasil tenha um sistema educacional eficiente;

c. Reformar ou criar um sistema de previdência capaz de eliminar as desigualdades no tratamento de nossos aposentados e dar sustentabilidade ao sistema, no longo prazo;

d. Levar adiante todas as reformas necessárias para desamarrar a economia brasileira, enfrentando a burocracia e o atraso educacional.

 

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