Há algumas semanas José Mojica visitou a cidade de Franca/SP para participar da XIV Semana de Relações Internacionais da UNESP. O evento aconteceu na tradicional escola Pestalozzi. Se eu fosse escrever sobre o evento em si sei que estaria um tanto quanto atrasado. No entanto, minha intenção é usar a palestra e as palavras de Mojica como analogia para a atual realidade.
O ex-presidente do Uruguai é de uma eloquência e retórica magistrais, soube prender a atenção do público mesmo não falando português. Seu discurso abordou vários temas, que horas se pôde ver um estadista, propondo saídas para o fortalecimento da economia da América Latina através da integração econômica para fazer frente às grandes potências mundiais; perpassou pela crítica ao sistema capitalista que nos oferece o que há de melhor em tecnologia, mas que é incapaz de usa-la a favor da equidade social; até chegar ao discurso motivacional do homem simples, bucólico, que valoriza as pequenas coisas da vida como valores essenciais para felicidade.
Em linhas gerais, Mojica não propôs caminhos, não discorreu sobre vias políticas para que pudéssemos chegar a uma sociedade mais igualitária, apenas apontou onde devemos chegar. Estes aspectos não diminuem a riqueza de seu conhecimento e sua palestra. Entretanto, e talvez nem por falha do ex-presidente uruguaio, a ausência de aspectos técnicos de como se alcançar a sociedade que ele deseja, abriu espaço para a instrumentalização do seu discurso. O “Fora Temer e o Não Vai Ter Golpe” ressoaram no evento como premissa indispensável para se alcançar a sociedade sonhada por Pepe. Perdeu-se assim uma ótima oportunidade de discorrer e refletir, dentro do pluralismo democrático, o imenso conhecimento do ex-presidente e as várias vias que existem para um Brasil mais equânime!
A presença de Pepe em Franca foi e é simbólica para nosso atual momento, julgamento do impeachment de Dilma Roussef, pois mostra o quanto parte da nossa população ainda é imatura politicamente ao negar o pluralismo democrático. O abstrato e a realidade ainda andam distantes em terras tupiniquins. Sonha-se com a democracia, mas rejeita-se as implicações que a mesma traz. Prefere-se o jogo de acusações, do que aprofundar-se no conhecimento. No final, este é o Brasil que conhecemos, sempre procurando a lei do menor esforço!
Por: Por Germano de Souza Martiniano, formado em Relações Internacionais pela UNESP Franca e assessor de comunicações da Fundação Astrojildo Pereira.