Nexo: O que é o PPS, partido que quer filiar Luciano Huck para disputar o Planalto

Antes aliada do PT e hoje próxima dos tucanos, legenda faz acenos ao apresentador de TV para tê-lo como candidato à Presidência em 2018.
Foto: Lula Marques / AGPT
Foto: Lula Marques / AGPT

Antes aliada do PT e hoje próxima dos tucanos, legenda faz acenos ao apresentador de TV para tê-lo como candidato à Presidência em 2018

Lilian Venturini / Nexo

Presidente nacional do PPS, o deputado federal Roberto Freire tem escrito mensagens em seu perfil no Facebook ora aos feitos do governador paulista Geraldo Alckmin, tucano de quem é aliado, ora aos “novos movimentos” da política, grupo em que insere o apresentador da TV Globo Luciano Huck.

Alckmin e Huck têm planos políticos nacionais. Em comum, apresentam-se como figuras intermediárias entre outras duas candidaturas já apresentadas: a do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que depende do desenrolar de seus processos na Justiça para saber se poderá se candidatar, e a do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ).

A diferença entre Alckmin e Huck é que, enquanto o governador se coloca mais claramente como candidato ao Planalto e tem um partido definido, o PSDB, o apresentador de TV ainda é uma incógnita — tanto quanto a sua candidatura quanto ao partido que escolherá, caso decida disputar a eleição. O PPS de Freire, que desde 2002 não lança candidato próprio ao Palácio do Planalto, simpatiza com ambos.

Alckmin é a opção mais forte dentro do PSDB no momento. O PPS é próximo dos tucanos. Tem longa trajetória de união e de alianças em eleições presidenciais, estaduais e municipais. Ao governador, Freire tece elogios. Já Huck surge em meio ao desgaste da classe política tradicional em tempos de Lava Jato. A ele, Freire diz que o PPS está de “portas abertas”
.
Do ‘Partidão’ ao discurso da ‘terceira via’
O Partido Popular Socialista foi fundado em 1992 num processo de refundação do Partido Comunista Brasileiro, que desejava mudar e se adaptar ao contexto político pós-Guerra Fria. A mudança ocorreu durante o 10º Congresso do PCB, liderado por Roberto Freire, para quem o fim do bloco soviético apontava para a queda do comunismo e para a necessidade de rever conceitos.

Uma parte do PCB não acompanhou Freire e fundou um novo partido, mantendo o nome PCB. Adiante com o PPS, a legenda procurou conciliar a defesa do combate à pobreza ocupando um lugar numa chamada “terceira via”, buscando um espaço entre a polarização entre PT e PSDB. Na prática, porém, sempre esteve à sombra, ora de um, ora de outro.

O PPS diz ter os seguintes valores:
• Implantação do parlamentarismo, sistema de governo defendido no plebiscito realizado em 1993 – derrotado pelo presidencialismo
• Redução da pobreza
• Reforma “democrática do Estado”, a fim de acabar com privilégios (tributação sobre dividendos, por exemplo)
• Coexistência entre público e privado

Desde 2013, a legenda por duas vezes buscou a fusão com outros partidos, sem sucesso. A primeira tentativa foi com o PMN, que daria origem ao Mobilização Democrática. A segunda, entre 2014 e 2015, buscou o PSB, PHS e PEN, este que agora negocia a candidatura de Jair Bolsonaro sob nome de Patriotas.

Entre oposição, base e ‘linha auxiliar’ do PSDB
O PPS teve candidato próprio nas eleições presidenciais de 1998 e 2002, nas duas com o ex-governador cearense Ciro Gomes, atualmente no PDT, legenda pela qual deve ser candidato em 2018. Fora do Planalto, o PPS teve momentos de proximidade com o PT, mas esteve mais próximo dos tucanos, cuja relação rendeu à legenda a alcunha de “linha auxiliar” do PSDB.

Depois de apoiar o início do primeiro mandato de Lula na Presidência, em 2003, o partido de Freire foi para a oposição. Nas eleições de 2006 e 2010, o PPS apoiou candidaturas tucanas (Alckmin e José Serra, respectivamente). Em 2014, a legenda ficou ao lado de Marina Silva (Rede) e no segundo turno declarou apoio ao senador Aécio Neves (PSDB), derrotado por Dilma Rousseff (PT).

No Congresso o partido é representado por 9 (entre 513) deputados e 1 senador (de um total de 81), Cristovam Buarque (DF), um ex-petista. Atualmente, o PPS declara-se como independente, após abandonar a base aliada do governo Michel Temer em maio, mês em que surgiram as denúncias contra o presidente no caso JBS. À época, Freire era ministro da Cultura e deixou o cargo em razão das acusações.

O PPS e o Planalto
NO GOVERNO COLLOR
O partido defendeu o impeachment do presidente Fernando Collor e foi aliado de Itamar Franco, que assumiu a Presidência em 1992. Em 2009, Itamar filiou-se ao PPS, pelo qual foi eleito senador por Minas Gerais em 2010.

NO GOVERNO FHC
Inicialmente na oposição, o PPS era crítico a Fernando Henrique, mas apoiava o Plano Real – lançado no fim do governo Itamar, mas base para a eleição do tucano em 1994. No segundo mandato, o PPS se aproximou do Planalto, integrando o governo ao assumir o Ministério do Desenvolvimento Agrário – no momento do auge dos protestos do MST (Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) pelo país. Na fase final da gestão, o PPS se afastou novamente do PSDB.

NOS GOVERNOS LULA E DILMA
O partido fez parte da base do primeiro mandato da gestão Lula (2003-2010), mas somente até 2004. Por entender que Lula abandonou propostas de reformas prometidas, o PPS rompeu com o PT e tornou-se oposição, unindo-se ao DEM (então PFL) e ao PSDB. O grupo permaneceu unido durante a gestão Dilma (2011-2016) e, com ele, o PPS apoiou o impeachment da petista.

NO GOVERNO TEMER
O PPS aderiu ao governo, mas deixou a base aliada depois do escândalo da JBS. O partido classificava o governo Michel Temer como um processo de “transição” e de articulação para as reformas da Previdência e trabalhista, entendidas como “essenciais” para enfrentar a crise econômica. “A agenda Temer tem um aspecto progressista, que justifica o apoio e a participação da esquerda e do PPS no seu governo”, diz o PPS em documento redigido para o 19º Congresso Nacional da sigla, a ser realizado em dezembro.

Para 2018, PPS explora discurso de ‘centro’
Na articulação para definir qual o papel do partido nas eleições 2018, o PPS tenta se consolidar num discurso que busca um meio do caminho entre as candidaturas de Lula e Bolsonaro, que na definição da legenda representam setores extremistas da esquerda e da direita, respectivamente. Trata-se de um discurso recorrente no momento. Boa parte de quem se apresenta para a disputa se diz de “centro”.

Nas palavras da legenda, o “fracasso sucessivo” do PT e do PSDB em representar o centro “abre espaço para uma atuação mais incisiva do PPS nesse rumo”. Desde que o nome de Luciano Huck foi se consolidando como opção para 2018, o partido, e mais especificamente Freire, passou a enfatizar a importância da renovação e da abertura para “novos movimentos” da sociedade civil.

Qual a situação de Luciano Huck
Huck não é filiado a nenhum partido. Oficialmente, ele apenas confirma seu desejo e interesse em participar do processo de “renovação política”, sem dizer como. Nos bastidores, reportagens dão conta de encontros entre o apresentador e economistas, empresários e de movimentos como o Agora! e o RenovaBR, grupos que também levantam a bandeira da renovação e da formação de novos quadros.

Privacy Preference Center