Filme destaca luta de psiquiatra por pacientes de manicômios nos anos 1950

Lançado em 2016, Nise: O Coração da Loucura será debatido em sessão do cineclube
Foto: Divulgação
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João Vitor, com edição do coordenador de Publicações da FAP, Cleomar Almeida

Com linguagem clássica, o filme Nise: O Coração da Loucura (2016), dirigido por Roberto Berliner, mostra o trabalho da psiquiatra Nise da Silveira para reintegrar pacientes de um hospital à sociedade. “O trabalho dela é possibilitar que aquela pessoa com transtornos socialize com o outro”, avalia o psicanalista Marcell Araújo.

O longa será exibido nesta sexta-feira (11/3), no Cineclube Vladimir Carvalho, gratuitamente, a partir das 14 horas. A unidade funciona no Espaço Arildo Dória da Biblioteca Salomão Malina, que completou 14 anos e é mantida pela Fundação Astrojildo Pereira, sediada em Brasília.

O filme conta a história de uma psiquiatra nos anos 1950. Na época, ela foi isolada por outros médicos por ser contrária aos tratamentos convencionais de esquizofrenia. Ela, então, assume o setor de terapia ocupacional, onde inicia uma nova forma de lidar com os pacientes, pelo amor e pela arte. Por isso, rompe a perspectiva do sistema manicomial daquele período.

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“Antes de Nise chegar, o hospital funcionava como um depósito de pessoas psicóticas”, analisa Araújo, para acrescentar: “Não era um tratamento em si”. Ele ressalta que o contato com o outro ajuda o indivíduo a ter manejo psíquico e orientação.

O psicanalista acredita que o eletrochoque, a lobotomia e o descaso com pacientes não existam mais da forma como foram retratados no filme. “Hoje existe uma proposta em tentar fazer o hospital psiquiátrico não ser um depósito de pessoas. Há um trabalho dinâmico e respeitoso”, observa.

Como exemplo dessa mudança de modelo, ele cita os atuais Centros de Atenção Psicossocial (Caps), uma proposta mais humanizada para o tratamento e reinserção social de pessoas com transtornos mentais. Os Caps foram criados para oferecer atendimento interdisciplinar.

 “Estas unidades desenvolvem um trabalho integrado. Não só do médico psiquiátrico, mas também do psicológico, fisioterapêutico e outros métodos e tipos de assistências”, afirma.

No filme, Fernando é personagem que assume relevância. Ele pinta um quadro após envolver-se com outra paciente. “Começa com um rabisco. Depois, ele desenha móveis, objetos e coloca tudo numa tela só. Quando a mãe dele vê a arte, diz que aquilo lembra a casa de sua antiga patroa”, diz. “Nada como o contato com o outro para poder se expressar de forma criativa”.

CENAS DE NISE: O CORAÇÃO DA LOUCURA

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Segundo Araújo, a troca de cartas entre Nise e o psicoterapeuta Carl Jung, mostrada no filme, dá segurança e estímulo à terapeuta. Ele acrescenta que a arte pode ser uma manifestação do inconsciente, embora seja um método fortemente contestado, tanto no filme quanto na realidade. 

O psicanalista lembra da importância do trabalho de Nise ao mencionar que, em Salvador (BA), foi criado um espaço em sua homenagem, possibilitando a sociabilidade entre os matriculados. “O Espaço Nise da Silveira é não-hospitalar e de terapias em grupo com várias temáticas, de acordo com a situação de cada paciente”, explica.

Já o professor de história do cinema e crítico de cinema Ulisses de Freitas Xavier comenta que o longa brasileiro de 2016 é bastante convencional e tem como destaque a interpretação naturalista de Glória Pires. Segundo ele, a atriz exerce um papel de “persona marmórea, persistência e segurança”.

O crítico também ressalta a mensagem de humanismo que a obra cinematográfica, de 1h40 de duração, traz. “A doutora Nise era uma mulher à frente do seu tempo. Ela revolucionou a psiquiatria mesmo estando isolada, sozinha contra um mundo masculino e bruto”, comenta Xavier.

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Sobre o Cineclube

O Cineclube Vladimir Carvalho, que leva o nome do cineasta paraibano considerado um dos maiores documentaristas do país, foi reaberto em setembro de 2021, depois de ser fechado ao público em março de 2020, por causa da pandemia da covid-19.

Todas as sextas-feiras, a partir das 14h, tem exibição gratuita de um filme.

Cineclube Vladimir Carvalho
Onde: Espaço Arildo Dória, em cima da Biblioteca Salomão Malina, no Conic, região central de Brasília (DF)
Dia: 11/03/2022
Horário: 14h
Realização: Fundação Astrojildo Pereira, Biblioteca Salomão Malina e Cineclube Vladimir Carvalho

*Integrante do programa de estágio da FAP, sob supervisão do jornalista, editor de conteúdo e coordenador de Publicações da FAP, Cleomar Almeida

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