Bernardo Mello, Gabriel Sabóia e Gustavo Schmitt / O Globo
RIO e SÃO PAULO — Criado já com o status de maior partido do país, e com um fundo eleitoral de quase R$ 800 milhões, o União Brasil virou alvo da cobiça dos principais pré-candidatos à Presidência e, após definir os comandos regionais, convive com conflitos internos que devem levar à saída de parlamentares. O cenário de fragmentação, com alinhamentos ideológicos distintos nos diretórios espalhados pelo país, projeta uma campanha em que dificilmente o partido marchará unido com um só nome ao Palácio do Planalto.
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A indefinição sobre a identidade nacional do partido abriu brecha para uma ofensiva do ex-presidente Lula (PT) em busca de apoios pontuais do União Brasil, que nasceu da fusão de duas siglas, DEM e PSL, majoritariamente refratárias aos petistas. O presidente Jair Bolsonaro (PL) e o pré-candidato do Podemos, o ex-juiz Sergio Moro, também disputam entre si palanques regionais do partido.
Lula vem tentando construir uma aproximação com o governador do Mato Grosso, Mauro Mendes, egresso do DEM e lançado à reeleição com apoio do bolsonarismo local. Aliados de Mendes como o senador Carlos Fávaro (PSD-MT) e o deputado Neri Geller (PP-MT), pré-candidato ao Senado, abriram diálogo com o PT local, sob orientação do ex-presidente.
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O movimento de Lula aproveita também uma fissura na base de Bolsonaro no estado. Com a filiação do presidente, o PL passou a articular um palanque local para Bolsonaro com adversários do governador, como o senador Wellington Fagundes (PL-MT) e o prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro (MDB), cujo filho, o deputado federal Emanuelzinho, se filiou à sigla.
— A intenção de Lula é fazer um grupo suprapartidário de reconstrução nacional. Estamos buscando muita gente, inclusive do PP e PSD, e essas pessoas já conversaram com o governador — disse a deputada federal Rosa Neide (PT-MT).
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Lula também pode estar em palanques com o União Brasil na Paraíba e em Sergipe, onde o partido articula candidaturas ao Senado na chapa dos governadores João Azevêdo (Cidadania) e Belivaldo Chagas (PSD), que apoiam o ex-presidente. Em ambos os casos, porém, o PT local quer montar palanques de oposição aos governantes.
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Moro e Bolsonaro
Dentre os dez estados em que o União Brasil prepara candidaturas ao governo, em metade há disputas envolvendo Bolsonaro e Moro para subir nos palanques da nova sigla. No Nordeste, ambos disputam os apoios de Capitão Wagner no Ceará, de Miguel Coelho em Pernambuco e de ACM Neto na Bahia.
Enquanto Moro busca uma coligação, com a possibilidade de Bivar indicar seu vice na chapa presidencial, Bolsonaro aposta no fato de parlamentares do PSL e do DEM integrarem a base do governo, e também na reprodução da polarização com Lula, nos estados em que candidatos do União Brasil rivalizarem com nomes do PT.
Na Bahia e em Pernambuco, Neto e Coelho desejam manter seus palanques abertos, para facilitar coligações amplas e evitar as rejeições de presidenciáveis. No Ceará, Bolsonaro foi acompanhado por Capitão Wagner no último dia 8 ao visitar uma das obras da transposição do Rio São Francisco. Moro, que promoveu agendas com produtores rurais, empresários e pastores em Fortaleza na mesma semana, participou também de um jantar político com o prefeito de Maracanaú, Roberto Pessoa, na tentativa de articular apoio do União Brasil. Pessoa, que é aliado de Wagner, trocará o PSDB pela nova sigla.
O estado também foi um dos epicentros da disputa entre DEM e PSL pelo comando de diretórios estaduais. Wagner, que ainda é filiado ao Pros, filiou correligionários ao PSL para garantir o controle do diretório, numa queda de braço com o senador Chiquinho Feitosa (DEM-CE), que é próximo ao grupo do presidenciável Ciro Gomes (PDT).
O PSL, representado por seu vice-presidente, Antonio Rueda, abocanhou o controle de diretórios de grandes colégios eleitorais, como Minas, São Paulo e Rio — nos dois últimos houve atritos. Em São Paulo, onde o conflito opôs o grupo ligado ao presidente da Câmara Municipal, Milton Leite (DEM), e aliados do deputado Junior Bozella (PSL), o próprio Rueda assumirá o diretório. No Rio, o deputado Sóstenes Cavalcante, do DEM, deve deixar o novo partido por divergências com o novo presidente estadual, Waguinho, prefeito de Belford Roxo.
— O companheiro Sóstenes tem o direito de seguir o seu rumo, terá sempre o nosso respeito — resumiu o deputado Efraim Filho, do DEM, que comandará a sigla na Paraíba.
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Em alguns estados, embora oficialmente sanadas, as disputas entre DEM e PSL devem se estender na definição de apoios presidenciais. Em Santa Catarina, o partido será comandado pelo prefeito de Florianópolis, Gean Loureiro, pré-candidato ao governo e que busca uma aliança local com o Podemos, com possível palanque a Moro. Já o deputado Fábio Schiochet, que assumiu a vice-presidência estadual em acordo com Loureiro, representa uma ala do PSL que ainda defende o apoio a Bolsonaro, caso o União Brasil não tenha presidenciável.
No Paraná, onde o comando será do PSL, o deputado Filipe Barros (PSL-PR) já disse querer concorrer ao governo como candidato bolsonarista, mas tende a mudar de sigla para levar o plano adiante. O diretório do União Brasil deve ficar a cargo de Felipe Francischini, seu colega na Câmara, mais aberto ao diálogo com o governador Ratinho Jr. (PSD) e com Moro. Já o deputado Pedro Lupion, que presidia o DEM no estado, avalia migrar para uma sigla na base do governador. Lupion também é próximo a Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo Bolsonaro na Câmara.
No Espírito Santo, o deputado federal Felipe Rigoni saiu do PSB e ingressou no União Brasil para despontar como pré-candidato ao governo, mas lideranças do DEM, como o ex-senador Ricardo Ferraço, pretendem ainda discutir o palanque estadual e nacional. Ambos já mantiveram diálogo com o PSDB, mas ficaram mais distantes da sigla após a vitória do governador de São Paulo, João Doria, nas prévias tucanas — Rigoni, que avaliou se filiar ao partido antes de optar pelo União Brasil, apoiava o gaúcho Eduardo Leite. Na eleição presidencial, o deputado tem sugerido apoio a Moro ou a outro nome da terceira via e veto a Bolsonaro, mas integrantes do DEM, como Theodorico Ferraço, pai de Ricardo, já fizeram acenos ao presidente.